domingo, 21 de maio de 2017

poema.

a folha em branco
me é um desafio
porque quero preenchê-la
fraturá-la
com minhas palavras
drásticas
dessacralizar o seu branco plácido
e virgem
manchá-la
acariciá-la com minha pele
sôfrega
arrancar de seu corpo branco gemidos brandos
e libertadores
só gozaremos
- o papel e eu -
quando enfim nascer
maldito
ou bendito
um poema
ainda que torto, roto, torpe
sem sorte
poema a falar da dor e da morte
de fazer assim um poema
sem tema
que pena
estragado estratagema
ovo sem gema
deixa, deixa
eu sair de casa
sobre o papel uma apostema
que queima, queima

veja a rua, a chuva já foi embora
sem teima
saiamos de casa
vamos, pois, ao cinema!

sábado, 20 de maio de 2017

06/05/2017

Quando estiveres em tua sacada,
Ouvindo a noite, como dizes,
Quem sabe me ouças no vento
Ou no pio de alívio de uma coruja ouriçada
sejas capaz de ouvir meus gemidos quentes e incompreensíveis.
Talvez tu encontres o caminho da minha boca
no sereno das duas horas, as horas ocas,
uma gota grossa de chuva
a escorrer pelo beirado e a tocar ansiosa tua nuca.
Quem sabe, quem sabe,
No fim desta madrugada que morre afoita
Em tranquilos suores, tu encontres
Os líquidos vivos do meu corpo
A escorrerem da umidade da palmeira
Que treme de prazer quando é tocada
pela luz masculina do sol que já se anuncia.


C. Berndt