terça-feira, 26 de setembro de 2017

dum domingo.

para ti, pequeno.


domingo
essa melancolia exposta
transposta
nossa
que coça
roça
o corpo
a mente
passa pelas costas
chega morna aos pés
que sentem falta de outros pés
os teus, querido
neste domingo frio
em que bebo chá
escrevo
penso na vida
e me curo de um resfriado
amanhã volto, amanhã
regresso para casa
e para ti
a felicidade tocará então meu rosto
minha alma
ao te sentir comigo
mas o que seria, diz-me,
o que seria, amigo
da alegria
do prazer
do sorriso
da nossa epiderme a se arrepiar
sem esses domingos mornos
de suave melancolia
em que a gente suspira
e se atreve
a escrever versos
uma qualquer poesia...

pensando bem
esqueça essas palavras todas, esqueça
este sal
este mal
vem ouvir comigo
a Gal
já que hoje é só um dia de domingo...

**
C. Berndt

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

20/09/2017

querer dizer
dizer, traduzir
em palavra de poeta
em linha
em verso
o que dentro da alma palpita
é por vezes impossível
é coisa que não sai, por mais que tudo cheire a poesia

é ver diante o sol e não sentir seu calor na pele
ou ir ao mar e não molhar ao menos os pés

então
o poeta adia
o sono e a hora de deitar
mesmo sabendo que sentirá falta desses minutos na cama
quando acordar
para poder escrever
poder dizer
a dor que sente quando não consegue
dar vida e materialidade ao que a pele já sentiu

então ativa-se a memória
e ele tenta lembrar das coisas boas
e também tristes
que merecem ser contadas num poema
um poema que valha a pena
que dê algo ao leitor
um suspiro, um minuto de alívio,
de redenção ou de indignação
uma dor
a certeza de que há em todas as esquinas
de nossas vidas
algum amor

a despeito de todas as guerras
é de amor que o poeta quer falar
também
do amor que sente por um rapaz
do amor que sente pela mãe ou pela sobrinha
do amor que julga ser o norte desse mundo
e que ainda é esquecido, por ora
do amor que se avizinha no horizonte
afinal
o primeiro minuto da madrugada de agora
prenuncia já a manhã clara

a manhã clara
lúcida
brilhante
terna e macia
aos nossos olhos e corpos
em que o poeta despertará de seu sono
em paz
com a sensação fugaz
de ter sonhado e não escrito essas palavras.
**

C. Berndt