estou cansado de andar,
os meus pés doem de pisar essa terra
dura e magoada,
cheia de espinhos e desencontros.
Tantos desencontros,
tantas pontes levantadas em vão:
quase ninguém chega
do outro lado da margem.
E há quem mergulhe neste rio
chamado solidão
e afunde nele com pedras
amarradas na cintura,
na esperança de adormecer
em tudo e para sempre,
de esquecer-se.
Eu também sonho
com esse adormecer,
mas falta-me a coragem
e também
e também
que os meus olhos deixem de brilhar quando veem estrelas.
Mas, ó, bem queria outro tipo de adormecer,
um mais mágico e mais pueril:
quem me dera deitar-me homem e
acordar-me pássaro,
de penas, bico e asas,
livre, pequeno, leve
e esquecido,
Tranquilo.
Ser,
ser uma andorinha,
pra encontrar de novo o meu Norte
e d'ele nunca mais voltar.
O verão ainda está longe
e não posso mais viver pensando no amanhã:
vou deitar-me,
ao menos nos sonhos,
a minha alma voa
e beija os lábios de quem amo.
Ouves os meus suspiros,
andorinha, ouves?
pois então,
leva,
leva a minha saudade
e a vontade dos meus beijos para ele,
já que tu tens asas
e eu
só os sonhos e espasmos.
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