Da nossa janela, o sol, a chuva,
a muda de kalanchoe:
a luz das manhãs, a paz de mel
dos teus beijos
de céu,
jardins de cotidiano, lençóis que são o mar do sul,
uma ilha
secreta
em que estrelas do mar são como casas
e o vento não derruba, só constrói.
Vejo as paisagens sonhadas com a mesma clareza com que fito as reais. Se me debruço sobre os meus sonhos é sobre qualquer coisa que me debruço. Se vejo a vida passar, sonho qualquer coisa.
De alguém alguém disse que para ele as figuras dos sonhos tinham o mesmo relevo e recorte que as figuras da vida. Para mim, embora compreendesse que se me aplicasse frase semelhante, não a aceitaria. As figuras dos sonhos não são para mim iguais às da vida. São paralelas. Cada vida — a dos sonhos e a do mundo — tem uma realidade igual e própria, mas diferente. Como as coisas próximas e as coisas remotas. As figuras dos sonhos estão mais próximas de mim, mas (…)
Excerto do ''Livro do Desassossego'', de Bernardo Soares.
Yo no podré quejarme si no encontré lo que buscaba. Cerca de las piedras sin jugo y los insectos vacíos no veré el duelo del sol con las criaturas en carne viva.
Pero me iré al primer paisaje de choques, líquidos y rumores. que trasmina a niño recién nacido y donde toda superficie es evitada, para entender que lo que busco tendrá su blanco de alegría cuando yo vuele mezclado con el amor y las arenas.
Allí no llega la escarcha de los ojos apagados ni el mugido del árbol asesinado por la oruga. Allí todas las formas guardan entrelazadas una sola expresión frenética de avance.
No puedes avanzar por los enjambres de corolas porque el aire disuelve tus dientes de azúcar, ni puedes acariciar la fugaz hoja del helecho sin sentir el asombro definitivo del marfil.
Allí bajo las raíces y en la médula del aire, se comprende la verdad de las cosas equivocadas. El nadador de níquel que acecha la onda más fina y el rebaño de vacas nocturnas con rojas patitas de mujer.
Yo no podré quejarme si no encontré lo que buscaba; pero me iré al primer paisaje de humedades y latidos para entender que lo que busco tendrá su blanco de alegría cuando yo vuele mezclado con el amor y las arenas.
Vuelo fresco de siempre sobre lechos vacíos, sobre grupos de brisas y barcos encallados. Tropiezo vacilante por la dura eternidad fija y amor al fin sin alba. Amor. ¡Amor visible!
Poema extraído do livro Poeta en Nueva York.
medusas
brilhantes
gigantes
do pacífico
a brilhar no mais profundo azul
estrelas distantes
fluídicas
pelágicas
da galáxia oceânica
anãs marrons, vermelhas, amarelas, gigantes azuis
movem-se, caem
flutuam à superfície
à borda do seu universo
e morrem
secam
desaparecem
mas não sem antes queimar a mão de algum miúdo
medusas
brilhantes
água viva
e água morta
são como nós
seus corpos desaparecem
como se nunca tivessem existido.
domingo, 28 de janeiro de 2018
pobre Orpheu
da antiguidade
perdido em sua soledade
abandonado
do amor amargurado
na Trácia pela fúria assassinado
para cada lado um membro
só a cabeça com a cabeleira extensa intacta
seu rosto triste e humano
a escapar das mãos das feras
a correr pelo rio abaixo
do tempo, das eras
reencarnado, ressuscitado, relembrado
sempre que a brisa é fria
e há espaço n'algum ser
para poesia
no oceano da vida
ser orpheu é cantar
ainda que haja sangue
hastear a bandeira da doçura
da esperança
quando só restar a loucura
e à porta dos infernos
falar de amor, de perdão e de ternura
orpheu sacrificado
Cristo também foi
na cruz que matou seu corpo, não seu sonho.