Da nossa janela, o sol, a chuva,
a muda de kalanchoe:
a luz das manhãs, a paz de mel
dos teus beijos
de céu,
jardins de cotidiano, lençóis que são o mar do sul,
uma ilha
secreta
em que estrelas do mar são como casas
e o vento não derruba, só constrói.
Vejo as paisagens sonhadas com a mesma clareza com que fito as reais. Se me debruço sobre os meus sonhos é sobre qualquer coisa que me debruço. Se vejo a vida passar, sonho qualquer coisa.
De alguém alguém disse que para ele as figuras dos sonhos tinham o mesmo relevo e recorte que as figuras da vida. Para mim, embora compreendesse que se me aplicasse frase semelhante, não a aceitaria. As figuras dos sonhos não são para mim iguais às da vida. São paralelas. Cada vida — a dos sonhos e a do mundo — tem uma realidade igual e própria, mas diferente. Como as coisas próximas e as coisas remotas. As figuras dos sonhos estão mais próximas de mim, mas (…)
Excerto do ''Livro do Desassossego'', de Bernardo Soares.
Há poucos dias descobri um poema do Mário Cesariny que me encantou e surpreendeu. Trata-se de uma leitura homoerótica e, de algum modo, paródica da relação dos heterônimos de Fernando Pessoa, escritor que exerceu grande influencia sobre os versos de Cesariny. Divido, portanto, o texto com vocês:
O ÁLVARO GOSTA MUITO
O Álvaro gosta muito de levar no cu O Alberto nem por isso O Ricardo dá-lhe mais para ir O Fernando emociona-se e não consegue acabar.
O Campos Em podendo fazia-o mais de uma vez por dia Ficavam-lhe os olhos brancos E não falava, mordia. O Alberto É mais por causa da fotografia Das árvores altas nos montes perto Quando passam rapazes O que nem sempre sucedia.
O Fernando o seu maior desejo desde adulto (Mas já na tenra idade lhe provia) Era ver os hètèros a foder uns com os outros Pela seguinte ordem e teoria: O Ricardo no chão, debaixo de todos (era molengão Em não se tratando de anacreônticas) introduzia- -Se no Alberto até à base E com algum incómodo o Alberto erguia Nos pulsos a ordem da kabalia Tentando passá-la ao Álvaro Que enroscado no Search mordia mordia E a mais não dava atenção. O Search tentava Apanhar o membro do Bernardo Que crescia sem parança direcção espaço E era o que mais avultava na dança Das pernas do maço de heteronomia A que aliás o Search era um pouco emprestado Como de ajuda externa (de janela ao lado) Àquela endemonia Hoje em dia moderna e caso arrumado.
Formado o quadrado Era quando o Aleyster Crowley aparecia. «Iô Pan! Iô Pã!», dizia, E era felatio para todos e pão de ló molhado em malvasia.
***
Este poema foi retirado do site https://www.escritas.org, mas recomendamos o livro Poesia, da editora Assírio Alvim, publicado em 2017, em Portugal.
domingo, 22 de julho de 2018
É você que tem Os olhos tão gigantes E a boca tão gostosa ...
en la noche estrellada el alacrón indicaba el camiño torto de la estrella roja qué ilumina mi corazón perpetuo
en la noche oscura de muchas palabras y pocas caras nada tiene más sentido que una estrella