(...)
E tomando as flores de sua lapela, ele as pôs na minha apenas com uma das mãos, ao mesmo tempo em que passava seu braço esquerdo em torno da minha cintura e me apertava com com força, pressionando-me contra seu corpo inteiro por alguns segundos. Esse curto intervalo pareceu-me uma eternidade.
Pude sentir seu hálito quente e ofegante sobre meus lábios. Embaixo, nossos joelhos se tocaram, e senti algo duro comprimir-se e movimentar-se de encontro às minhas coxas.
Minha emoção naquele momento era tal que mal podia ficar de pé; por um momento pensei que ele fosse beijar-me — mais do que isso, os pêlos crespos do seu bigode roçavam ligeiramente os meus lábios, produzindo a mais deliciosa das sensações. Porém, ele apenas olhou no fundo dos meus olhos com um fascínio demoníaco.
Senti o fogo do seu olhar mergulhar profundamente no meu peito, e muito mais abaixo. Meu sangue começou a ferver e borbulhar como um fluido em ebulição, e senti meu... (o que os italianos chamam de “passarinho”, e representavam como um querubim alado) lutar contra a sua prisão, erguer sua cabeça, abrir seus minúsculos lábios e novamente expelir uma ou duas gotas daquele fluido viscoso gerador da vida.
Mas aquelas poucas lágrimas — longe de serem um bálsamo atenuante — pareciam gotas de um líquido cáustico, queimando-me e produzindo uma forte e insuportável irritação.
Eu me sentia torturado. Minha mente era um inferno. Meu corpo estava em chamas.
Bem nesse momento ele soltou seu braço de minha cintura, e este caiu inerte com seu próprio peso, como o de um homem adormecido.
— Você acha que sou louco? — disse ele. Depois, sem esperar uma resposta: — Mas quem é são e quem é louco? Quem é virtuoso e quem é pervertido neste nosso mundo? Você sabe? Eu não.
A lembrança de meu pai me veio à mente e perguntei a mim mesmo, trêmulo, se meu senso também estaria me deixando.
Houve uma pausa. Nenhum de nós falou por algum tempo. Ele havia entrelaçado seus dedos com os meus, e caminhamos por alguns momentos em silêncio.
Todos os vasos sanguíneos do meu membro ainda estavam fortemente distendidos e seus nervos rígidos, os dutos espermáticos cheios a ponto de transbordar; portanto, com a ereção persistindo, senti uma dor surda se espalhar pelos órgãos reprodutores e suas proximidades, ao mesmo tempo em que o resto do meu corpo encontrava-se num estado de prostração, e ainda assim — apesar da dor e do langor —, era um sentimento muito prazeroso caminhar calmamente com nossas mãos entrelaçadas, sua cabeça quase pousada no meu ombro.
— Quando foi que você sentiu pela primeira vez os meus olhos nos seus? — ele me perguntou, num tom baixo, depois de algum tempo.
— Quando você subiu ao palco pela primeira vez.
— Exatamente; então nossos olhares se encontraram, e depois estabeleceu-se uma corrente entre nós, como uma faísca elétrica percorrendo um fio condutor, não foi?
— Sim, uma corrente ininterrupta.
— Mas você realmente me sentiu antes que eu me retirasse, não é verdade?
Como única resposta, pressionei seus dedos com força.
(...)
A carne, o sangue, o cérebro, e aquela indefinível parte mais sutil dos nossos seres pareceram fundir-se num inefável abraço.
Um beijo é algo mais do que o primeiro contato sensual entre dois corpos; é a emanação de duas almas enamoradas.
Mas um beijo criminoso, ao qual se resiste e combate durante muito tempo, e é por esse motivo há muito há muito ansiado, está além disso; é tão luxuriante quanto o fruto proibido; é uma brasa incandescente sobre os lábios; uma marca a ferro quente que queima a fundo, e transforma o sangue em chumbo derretido ou mercúrio escaldante.
O beijo de Teleny era realmente galvânico, pois eu podia sentir seu sabor até em meu palato. Era necessário um juramento, quando já havíamos nos dado tal beijo? Um juramento é uma promessa de boca para fora, que com frequência pode ser, e é, esquecida. Um beijo como aquele acompanha-nos até a sepultura.
Enquanto nossos lábios estavam unidos, sua mão lentamente, imperceptivelmente, desabotoou minhas calças, e sorrateiramente deslizou para dentro da abertura, pondo cada obstáculo em seu caminho instintivamente de lado até tomar posse do meu falo duro, teso e dolorido, que ardia como o carvão em combustão.
(...)
WILDE, O. Teleny, ou o reverso da medalha. São Paulo: Hedra, 2008. *
* Este livro foi publicado anonimamente em 1893, na Inglaterra, e hoje se sabe que se trata de um esforço conjunto de amigos de Oscar Wilde. O autor de ''O Retrato de Dorian Gray'' teria, na verdade, sugerido alguns episódios e dado a forma final ao texto.