transpiro-te
ainda
sim, transpiro-te
sinto-te na minha pele
a entrar-me e a sair-me pelos poros
no ouvido o barulho dos beijos
ainda
e o perfume
a ambrosia, o vapor
seguindo-me
grudados em meu corpo
meu corpo breve e frágil a fugir da chuva
*
depois de um copo d'água
no apartamento ainda escuro
vazio e silencioso como um templo
fecho os olhos
e vejo, como dois lumes, teus olhos
teus lindos olhos
duas estrelas castanhas dos confins da Via Láctea
a encher-me de luz nova
sou Saturno sem anéis a girar em torno de ti
*
talvez não façam dez minutos
desde que nos despedimos
sim, dez minutos atrás eu beijava tua boca
tocava tua pele
e sentia que o próprio Apolo invejava-nos
a chuva fina são suas lágrimas finas a pensar em Jacinto, pois
mas o deus da luz, que é também o deus da Cruz,
não tem espaço para ressentimentos em seu puro coração
por isso segue-nos com os olhos
e sorri feliz toda vez que chego em casa
absorto, embriagado de paixão
*
ofereço-te por fim
omoplatas sobre uma mesa de vidro
dentro delas, violetas e gerânios,
as minhas flores prediletas
as mesmas que apanho tarde da noite nas campinas tardias
e distantes
por onde vagueio sempre em silêncio
metamorfoseado em coruja, lobo ou borboleta da lua, certamente
sim, ofereço-te este singelo e sibilino jardim
que é meu corpo, minha mente
e quiçá minha alma, amado e dileto delfim!
C. Berndt.
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