segunda-feira, 2 de abril de 2012

O fim de um dia.

Esse é aquele momento de breve renúncia;

em que me deixo cair
de braços,    pernas,
dorso,        queixo        e sentimentos...
Os meus pesares, passos e desejos,
renuncio-vos relâmpago,
por uma noite,
esqueço-os e guardo-os nas minhas gavetas.
É um pender de corpo-todo, alma e mente,
que é amigo nas horas que precisamos do nosso Silêncio.
Recolho-me, deito-me,          mergulho esquecido de mim,
deles, de ti, meu querido, e de toda a estrada, da poeira, dos furacões.

Fecho as cortinas.
A única luz que vejo é a corajosa
e petulante luz do fim do dia,
que já assim fraquinha
diz-me versos tranquilos musicados
por párodos passarinhos
que dependurados nos telhados
me cantam o dormir do sol.

O sol vai deitar-se no colo do ocidente.
Eu,  hei de cair onde os sonhos são gentis
e a realidade é delicada, doce,
como as amoras que eu colhia na infância.


Poema escrito em 14 de março de 2012, em Coimbra. 

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