'' Todo eu era olhos e coração, um coração que desta vez ia sair, com certeza, pela boca fora. Não podia tirar os olhos daquela criatura de quatorze anos, alta, forte e cheia, apertada em um vestido de chita, meio desbotado. Os cabelos grossos, feitos em duas tranças, com as pontas atadas uma à outra, à moda do tempo, desciam-lhe pelas costas. Morena, olhos claros e grandes, nariz reto e comprido, tinha a boca fina e o queixo largo. As mãos, a despeito de alguns ofícios rudes, eram curadas com amor, não cheiravam a sabões finos nem águas de toucador, mas com água do poço e sabão comum trazia-as sem mácula. Calçava sapatos de duraque, rasos e velhos, a que ela mesma dera alguns pontos.''
As descrições rápidas, mas eficazes, feitas de modo quase caricatural, enfeitam esta que para mim é uma das obras máximas da Literatura Brasileira, ignorá-la é como dizer 'não' para o amor, ou manter-se trancado dentro de uma caverna quando o dia lá fora é bonito e tem borboletas. Mas é ainda ignorar uma parte escura e necessária do mundo, onde ressona um silêncio 'casmurro' sob ecos de melancolia e de Shakespeare.
- não preciso nem referir-me ao que penso sobre Machado de Assis, este gênio da Literatura Brasileira. Quando alguém diz-me que não gosta do que escreve Machado de Assis, eu simplesmente pasmo. Faço das minhas palavras as mesmas ditas por Harold Bloom no 'Cânone Ocidental', onde disse que se Machado de Assis tivesse escrito em inglês ou francês, seria um novo Balzac ou até mesmo uma espécie de Shakespeare no romance e em outros gêneros narrativos. Pra mim, ele sempre estará aqui, na minha cabeceira, no meu coração e orgulho-me muito do fato de termos este grande nome na Literatura Brasileira e Lusófona. -
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