12:21 – aquele momento efêmero, depois do almoço, em que
sentamos n’algum banco, com a alma cheia
de sono e vagar, e olhamos em volta:
Vejo-o de longe,
sentado com suas pernas abertas de homem.
homem macho – a contemplar o mundo,
um mundo que cabe entre as suas pernas?!
Acho-o lindo – com suas pernas de homem
com suas pernas e seus pêlos de homem,
com seu ar de homem que pensa
ser dono do mundo porque este
mundo que há
parece caber entre as suas
pernas.
Ele fuma. Admira o céu e olha a tudo e todos
como se estivesse por cima.
Acho-o lindo – deitaria-me com ele,
despiria as suas roupas, despiria
e jogaria a um canto
o seu imbecil ar superior de homem.
Os seus cabelos balançam
- ele gosta do vento que embala o seu ego.
Dá uma última tragada, levanta-se cauteloso,
– parece esperar por alguém,
só parece,
ele está só – só com seu ar de
homem.
Vai embora – com ar desiludido,
olhando para trás,
de certo pensa
que ninguém reparou no quanto ele
abriu as pernas.
Eu reparei – mas ele jamais vai saber disso.
Para onde vai tanto ego?
Aonde te leva – nos leva – todo esse inflar de sensações, de
aparências?
Tudo não se esvazia, foge e se escapa no fim de um orgasmo?
Orgasmo – é para isso que os homens abrem as pernas?
Já não o vejo,
nem o balançar delicioso de suas nádegas – dois lindos e
redondos gomos de laranja.
Ah. O meu cigarro também chegou ao fim
– desfez-se, virou fumaça, fluído.
– desfez-se, virou fumaça, fluído.
Tudo desfaz-se e é vão
– o teu ar superior de homem e a minha poesia.
– o teu ar superior de homem e a minha poesia.
Poesia vã, que só vale o tempo de um cigarro.
Tudo é vão.
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