os meus olhos no Horizonte fixos
num mar infinito, doloroso, de muitos crucifixos
em peitos de poetas
e vidas de homens e mulheres
fincados
à força,
no Horizonte infindo,
eu vi, nesta noite incauta,
translúcida,
encoberta de poesia e silêncio,
eu vi, sem nuvens, longe, pulsante, vivo, no Horizonte,
o fogo que corre, o fogo fátuo, quente,
eterno, vibrante,
nascido das florestas de ontem,
ancestrais,
onde
antes, do tempo, havia o nada,
sem voz e frio,
eu vi, qualquer coisa no cio,
pronta para me engolir,
sentir, tocar, masturbar,
do inferno e do céu vir
para me mostrar qualquer coisa de eterno
e fugaz,
eu vi, lá,
no fim, sem ar,
onde há o azul e tudo é quase negro
e o sóis pura melancolia,
eu vi, lá,
o que um dia os povos primeiros
da América, desta terra,
puro degredo,
terra roubada, violada, ferida,
que antes tinha outro nome, nome esquecido,
por certo,
a luz, a vontade, o facho, a luxúria, o sonho, a ira,
o falo, a espada, o útero,
de um deus, sujo, impuro, humano,
quente, ardente,
tonto, incoerente,
brilhante, eu vi, verdadeiro carcará,
a circular, a voar,
a me chamar,
aquele
que eles
chamavam boitatá,
a face de um homem,
do demônio,
do futuro, olhos de mercúrio,
perjúrio,
eu o vi, fantasma, espectro, destino,
onda, raio solar,
doce sensação dos corações que amam,
eu te vi, engano,
luz maldita
ou bendita, não sei o que é pior,
eu te vi,
no Horizonte,
serpente,
distante, muito distante,
infelizmente,
perdendo-se, caindo, sumindo
para sempre,
sem nunca nunca nunca
pisar o chão novamente
e pedir-me, dolente,
cansado, contente, perdão,
perdão, amado, querido, odiado
D. Sebastião.
C. Berndt
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