há de ser um reencontro, contigo e comigo próprio
tantos séculos depois, quase nem acredito, little boy,
aquela separação ainda me dói
desde miúdo te sinto, amigo etéreo
abraças-me invisível e eu te quero
sentir
com esse meu corpo incerto
essa gaiola, máquina, concha
olho para o céu, lembro do Ícaro que fui e ainda me desespero
talvez um dia tudo isso ganhe uma outra cara
outro tom ou forma-desejo
bem poderias vir aqui, possuir, alma austera,
aquele rapaz bonito da esquina e me dar um beijo de matéria
ok, estou a ouvir:
o espírito
a consciência
o éter
a leveza
a caridade
o mundo verdadeiro, não o das cópias e aparências,
eu sei...
a espera, a espera
quando eu era miúdo
eu já te sentia, sabia quem eras
a saudade sempre me foi essa coisa grande,
voraz, tristeza de alma e um andar sem força nas pernas
hoje eu vi nuvens branquíssimas
rumando com calma para o sul, algum lugar azul
ah, como eu quis ser elas
e no lago idílico
eu tentei ver meu rosto,
nada vi, nada vi
eu não sou esse corpo
o dia termina e eu vou dormir
a pensar que enquanto não chegas
que enquanto não parto
eu aqui fico
a mentir
a morrer
a tentar, por delicadeza, o pão e a bondade dividir
a esperar que a aurora me descubra
e seja, amigo,
o fim, o fim desses estranhos milenares conflitos
ainda que
tudo isso seja bonito
devido ao nosso (des)encontro infinito!
***
C. Berndt
29/11/2015
***
C. Berndt
29/11/2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário