quinta-feira, 30 de agosto de 2018
O Álvaro gosta muito (poema de Cesariny)
Há poucos dias descobri um poema do Mário Cesariny que me encantou e surpreendeu. Trata-se de uma leitura homoerótica e, de algum modo, paródica da relação dos heterônimos de Fernando Pessoa, escritor que exerceu grande influencia sobre os versos de Cesariny. Divido, portanto, o texto com vocês:
O ÁLVARO GOSTA MUITO
O Álvaro gosta muito de levar no cu
O Alberto nem por isso
O Ricardo dá-lhe mais para ir
O Fernando emociona-se e não consegue acabar.
O Campos
Em podendo fazia-o mais de uma vez por dia
Ficavam-lhe os olhos brancos
E não falava, mordia. O Alberto
É mais por causa da fotografia
Das árvores altas nos montes perto
Quando passam rapazes
O que nem sempre sucedia.
O Fernando o seu maior desejo desde adulto
(Mas já na tenra idade lhe provia)
Era ver os hètèros a foder uns com os outros
Pela seguinte ordem e teoria:
O Ricardo no chão, debaixo de todos (era molengão
Em não se tratando de anacreônticas) introduzia-
-Se no Alberto até à base
E com algum incómodo o Alberto erguia
Nos pulsos a ordem da kabalia
Tentando passá-la ao Álvaro
Que enroscado no Search mordia mordia
E a mais não dava atenção.
O Search tentava
Apanhar o membro do Bernardo
Que crescia sem parança direcção espaço
E era o que mais avultava na dança
Das pernas do maço de heteronomia
A que aliás o Search era um pouco emprestado
Como de ajuda externa (de janela ao lado)
Àquela endemonia
Hoje em dia moderna e caso arrumado.
Formado o quadrado
Era quando o Aleyster Crowley aparecia.
«Iô Pan! Iô Pã!», dizia,
E era felatio para todos
e pão de ló molhado em malvasia.
***
Este poema foi retirado do site https://www.escritas.org, mas recomendamos o livro Poesia, da editora Assírio Alvim, publicado em 2017, em Portugal.
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