doce suplício
o de amar alguém assim,
grande suplício amar alguém que não existe,
tolo suplício amar quem nos deu tão frágil guarida
e jamais dirá com a boca aberta em alegria
e com os dentes à mostra:
''volta, amor''!
suplício
que só me é útil por aqui,
nos escuros corredores da poesia,
nestes quartos desertos por onde me perco,
grito,
e esqueço um pouco de mim,
onde costuro, então, nuvens, invernos
e invento lembranças,
doce suplício
doce,
adorar quem só nos deu a solidão do mar
e as lágrimas todas
de um país que só me ensinou a amar,
doce suplício o de te amar, Portugal,
por que não me deste asas suficientes
para te reencontrar?
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