suave
mergulho dentro de mim
tão
delicadamente
que o faço como se estivesse a tocar um copo d'água
com a ponta dos dedos
mergulho
o barulho
de pingos d'água
bolhas de hidrogênio
os meus olhos fechados
só oiço então
os sons leves
sons doces
em sublime harmonia
a balançar como quem beija um filho
as paredes de éter, as cortinas fluídicas
do meu ser balançante
mergulho
sussurros vêm de algum lugar
uma voz muito querida
dizendo baixinho palavras de amor
mergulho
mais fundo
um pouco mais
em busca de mim e de paz
mergulho
não demoro a encontrá-lo
a sentir
as mãos de quem me espera
mãos tão suaves, tão ternas, tão lisas
e firmes
as mãos de um irmão
amigo
amante
meu coração
pouso
no chão
macio que lá existe
e o abraço com força
não
eu não preciso abrir os olhos
eu já o conheço há tanto tempo
tanto tempo
abraçamo-nos felizes
sentindo um o cheiro do outro
o tempo para
a saudade some
somos só nós
em paz
em paz
deitamos n'alguma lugar flutuante e tenro que nos esperava
ouvimos o canto de seres celestes
gigantescas e brilhantes medusas
balançando suas vestes
e ficamos, sim, a sentir nossa pele
a nossa epiderme
arrepiando-se
feliz
como quem diz
você finalmente aqui
aqui
você
aqui
ah,
mas mesmo a mais linda melodia chega ao fim
ao fim
quando eu subir de novo
à superfície
ele me acompanhará
sentindo
sofrendo
a distância surgir entre nós
mais uma vez
e eu ouvirei por muito tempo
o seu triste e melancólico assovio
a me chamar
a me dizer palavras de paciência
a me ensinar a amar e a esperar
esperar
esperar
o tempo em que mergulhar
não será mais necessário
terei voltado para o Mar.
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