nuvens brancas
largas e fortes,
extensa cordilheira de montanhas
suspensa no céu,
lembram-me o teu corpo
e eu não sei dizer porque,
o teu branco corpo,
delicado,
pequeno
e tantas vezes fugidio,
que tanto amei beijei penetrei,
que hoje
me é tão distante,
mais do que essa montanha de nuvens
vulcão adormecido de água em vapor
que logo descerá à terra,
talvez na forma de uma tempestade,
talvez como uma mansa e dolorida garoa de primavera,
a minha cabeça se enche de nuvens
e os meus olhos de água do mar,
tempestuo sozinho,
vou pr'a casa,
as lembranças se misturam, são espuma
ou qualquer coisa informe, escapam
o teu corpo,
o teu rosto,
o meu amor,
tudo isto está no céu, naquela montanha gigante
de nuvens de algodão doce
que talvez se torne
água do Atlântico
e vá te visitar
num dia em que estiveres sozinho
a ver o sol se pôr na Figueira da Foz,
vou pr'a casa,
tempestuo,
queria ser nuvem,
asa,
ar, vento,
Deus,
teu.
(C. Berndt)
