encontra, assim, as sementes de luz divina e as rega com cuidado e amor
verás a luz e sentirás o perfume no teu jardim que só crescerá se o partilhares com os outros
o mundo há de deixar de ser campo de guerra quando os homens e as mulheres cientes da vida eterna vencerem o seu egoísmo e espalharem a caridade por toda a Terra
e saberão que do seu livre arbítrio dependem
o seu destino e a sua sorte não mais temendo nem mesmo a morte pois saberão que ela nada mais é que breve retorno à pátria do espírito
terá lugar em todo o globo uma nova era gigante e verdadeira primavera quando finamente tiver nascido nos corações humanos o Cristo prometido!
***
C, Berndt
quinta-feira, 21 de janeiro de 2016
despeço-me deste dia com este delicado dedilhar de piano com essa doce e inebriante melodia que toca com as mãos fluídas e finas da madrugada o recanto mais fundo de mim onde, quem sabe, nasce e morre a minha poesia.
A paz que tantas vezes nos falta
no mundo, nos rostos, nas ruas
pode ser encontrada onde menos procuramos,
dentro-fundo do peito,
onde o Infinito nos plantou uma semente
de sabedoria e progresso.
A paz
há-de ser alcançada, pouco a pouco,
por cada um e por todos,
quando o mundo for palco de boas semeaduras
e menos egoísmo.
Sentir-se triste?
Para quê?
Lembremo-nos, alguém já nos disse:
Vós sois a Luz do mundo!
**
Mais em: https://www.facebook.com/ajaneladosespiritas?ref=hl
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor E não saber sequer que se deseja! É ter cá dentro um astro que flameja, É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito! Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim... É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim perdidamente... É seres alma, e sangue, e vida em mim E dizê-lo cantando a toda a gente!
Estou na biblioteca. Noto que as pessoas entram no recinto e dirigem-se quase todas a um canto, onde estão umas máquinas pretas, leitoras de códigos de barras, computadores modernos, semi-inteligentes, máquinas – chamemo-las assim, apenas de máquinas. Nestas engenhocas, isto é, nestas máquinas, os estudantes inserem a sua password,a sua senha e podem, prontamente, tanto devolver quanto requisitar livros. Eu, no entanto, faço parte da meia dúzia de etês que insiste no passado, no velho hábito de ir à mesa onde estão umas senhorinhas de mãos ágeis e sorriso frouxo, prontas para receber as devoluções e realizar novos empréstimos. Há quem diga que não há nenhuma diferença entre o trabalho das máquinas e o trabalho realizado pelas senhorinhas da biblioteca. Contudo, eu prefiro, sim, o contato humano, os olhos vivos, as palavras de educação, ainda que ditas por mero costume, o ''bom dia'' que as máquinas nunca me darão.
Eis aqui uma linda reflexão sobre o(s) amor(es): ''...Mas, então, numa quinta-feira à tarde de um ano qualquer, tropeçamos neste amor supostamente esquecido...''
Este vídeo também pode ser encontrado no seguinte endereço eletrônico: https://vimeo.com/45147642, onde há dados descritivos sobre a produção e direção.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
Compartilho aqui este magnífico conto de João Silvério Trevisan, que é uma verdadeira pérola literária, provocando-nos com indagações a respeito da vida, do amor, dos mistérios e da morte... Logo abaixo, já que se trata de ''provocações'', podem encontrar a interpretação do mesmo conto feita por ninguém menos do que Antônio Abujamra.
DOIS CORPOS QUE CAEM:
Por simples acaso, dois desconhecidos encontraram-se despencando juntos do alto do Edifício Itália, no centro de São Paulo.
- Oi – disse o primeiro, no alvoroçado início da queda. – Eu me chamo João. E você?
- Antônio – gritou o segundo, perfurando furiosamente o espaço.
E, só pra matar o tempo do mergulho, começaram a conversar.
- O que você faz aqui? – perguntou Antônio.
- Estou me matando – respondeu João. – E você?
- Que coincidência! Eu também. Espero que desta vez dê certo, porque é minha décima tentativa. anos venho tentando. Mas tem sempre um amigo, um desconhecido e até bombeiro que impede. Você afinal está se matando por quê?
- Por amor – respondeu João, sentindo o vento frio no rosto. – Eu, que amava tanto, fui trocado por um homem de olhos azuis. Infelizmente só tenho estes corriqueiros olhos castanhos…
- E não lhe parece insensato destruir a vida por algo tão efêmero como o amor? – ponderou Antônio, sentindo a zoada que o acompanhava à morte.
- Justamente. Trata-se de uma vingança da insensatez contra a lógica
- gritou João num tom quase triunfante. – Em geral é a vida que destrói o amor. Desta vez, decidi que o amor acertaria contas com a vida!
- Poxa – exclamou Antônio – você fez do amor uma panacéia!
- Antes fosse – replicou João, com um suspiro. – Duvidoso como é, o amor me provocou dores horríveis. Nunca se sabe se o que chamamos amor é desamparo, solidão doentia ou desejo incontrolável de dominação. O que na verdade me seduz é que o amor destrói certezas com a mesma incomparável transparência com que o caos significante enfrenta a insignificância
da ordem. Não, o amor não é solução para a vida. Mas é culminância. Morrer por ele me trouxe paz.
Ante o vertiginoso discurso, ambos tentaram sorrir contra a gravidade.
- E você, como se sente? – perguntou João a Antônio.
- Oh, agora estou plenamente satisfeito.
- Então por que busca a morte?
- Bom – respondeu Antônio – me assustou descobrir um fiasco primordial: que a razão tem demônios que a própria razão desconhece. Daí, preferi mergulhar de vez no mistério.
- Sim, da razão conheço demasiados horrores. Mas que mistério é esse tão importante a ponto de merecer sua vida?
- Não sei – respondeu Antônio. – Mistério é mistério.
- Mas morto você não desvendará o mistério! – protestou João.
- Por isso mesmo. O fundamental no mistério é aguçar contradições, e não desvendar. Matar-me, por exemplo, é bom na medida que me torna parte do enigma e, de certo modo, o agudiza. Tem a ver com a fé, que gera energias para a vida. Ou para a história, quem sabe…
- Taí um negócio que perdi: a fé. Deus para mim… – e João engasgou.
- Ora – revidou Antônio vivamente. – A fé nada tem a ver com Deus, que se reduziu a uma pobre estrela anã de energias tão concentradas que já nem sai do lugar. Deus desistiu de entender os homems, e virou também indagador. Sem Deus nem Razão, a única fé possível é mergulhar neste abismo do mistério total.
- Mas para isso é preciso ao menos saber onde está o mistério – insistiu João com os cabelos drapejando ao vento.
- Ué, o mistério está em mim, por exemplo, que me mato para coincidir comigo mesmo. Mas há mistério também em você: seu morrer de amor é o mais impossível ato de fé. Graças a ele, você participa do mistério. Porque se apaixonou pelos abismos. João olhou com olhos estatelados, ao compreender. E Antônio, que já faiscava na semi-realidade da vertigem, gritou com todas as forças:
- Há sobretudo este mistério maior de estarmos, na mesma hora e local, cometendo o mesmo gesto absurdo e despencando para a mesma incerteza, por puro acaso. Além de cúmplices, a intensidade deste mergulho nos tornou visionários. Você não vê diante de si o desconhecido? É que já estamos perfurando a treva.
E como tudo de fato reluzia, João também ergueu a voz:
- Sim, sim. É espantoso o brilho do absurdo.
- E agora – disse Antônio bem diante do rosto de João – falemos um pouco da permanência. Você gosta dos meus olhos azuis?
Foi quando os dois corpos se estatelaram na Avenida São Luiz.
De repente, não mais que de repente, sinto uma 'vontade/saudade' de apanhar um comboio e passar a tarde em Lisboa, caminhar da baixa ao bairro alto, passear meus olhos sobre os azulejos, ouvir um ou outro fado enquanto passo na rua...
Gostaria apenas de compartilhar este texto com vocês que acompanham, carinhosamente e com alguma regularidade, as atualizações deste meu «cantinho de desabafo e poesia».
É um texto escrito pelo jornalista José Castello, publicado no Jornal ''O Globo'' em 18/08/2012 e e que está disponível no blog «Conteúdo Livre»
O texto se chama ''A criança perdida'' e trata-se de uma espécie de reflexão sobre o ato de escrever e sobre a figura do escritor. José Castello discute e questiona o modo como, na atualidade, a sociedade e as instituições ligadas à Literatura relacionam-se com a figura do escritor, faz isso através das ideias do escritor Bartolomeu Campos de Queirós.
Aqui têm alguns trechos que resumem, mais ou menos, algumas de suas ideias principais:
''Falecido em janeiro de 2012 aos 67 anos, o escritor Bartolomeu Campos de Queirós nunca se cansou de dizer, ao contrário, que os escritores não escrevem com o que sabem, mas com o que desconhecem. “Se a literatura é uma extensão do autor, a mim ela surge pela falta”, diz em um dos ensaios de “Sobre ler, escrever e outros diálogos” (editora Autêntica). “Meu desejo é talvez de contar para os mais jovens aquilo que gostaria que fosse narrado a mim”.
“Só me interesso pelo que me falta”, insistia em dizer, e com isso explicava um pouco como os escritores suportam tantos anos de solidão antes de chegarem a um livro. O livro, no fundo, é só o desfecho dessa luta. É uma cicatriz que, em vez de ficar inscrita no corpo, se inscreve no papel. Para lutar, alimentam-se da insatisfação. “O que sei não me basta ou satisfaz”, escreve Bartolomeu. “Criar, para mim, é a alternativa derradeira para abrandar o peso do não sabido”.
''(...) Literatura é o contrário do aprendizado. O escritor não é um mestre, mas um aluno que luta para escutar a si mesmo. Consegue ouvir alguma coisa, e do que ouve, escreve.Não é muito, e por isso a literatura não oferece grandes respostas. Mas é o bastante para nos abalar.''
Bartolomeu parecia ser um daqueles escritores conscientes, que antes de ostentar algum tipo de orgulho e julgar-se um ''sábio'', colocava-se na posição de alguém que apenas pára e consegue ouvir a si próprio. Eu diria que o escritor e também os artistas, de um modo geral, são pessoas que conseguem olhar para a vida, para as pessoas e para si próprio como se fossem capazes de colocar-se fora disso tudo, «como a Alice de Lewis Carrol a olhar para o jardim e para o coelho apressado através do pequenino buraco da fechadura''.
E mais uma vez, creio ser útil trazer de volta aquela velha frase: ''É preciso idolatrar a dúvida!''
No meio da madrugada,
Depois de acordar suado,
assustado,
como um menino perdido em seus pesadelos,
acalmo-me:
com o sabor do chá,
o frio da manhã que nasce,
os suspiros das estrelas no universo. «Não te percas nos teus sonhos, menino-ostra, Tem cautela para não pisares e machucares as margaridas do teu caminho E deixa o Rouxinol cantar, deixa-o cantar e passa. Passa, que já já estás a sorrir de novo»
Ontem, fui assistir a peça ''Abajur Lilás'', interpretada por um grupo teatral português no Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra. Trata-se de uma peça teatral brasileira, cujo autor é Plínio Marcos, escritor que escreveu, sobretudo, na ditadura militar. A peça conta o drama de três prostituas que sofrem com as explorações de um cafetão e de um mundo injusto, marginalizado e violento. A peça tem como pano de fundo o contexto da ditadura militar brasileira.
Vale a pena assistir e também ler a peça, que trata-se de uma ferrenha crítica ao regime ditatorial e suas torturas, lançando olhar sobre um assunto que é, comumente, posto de lado, a prostituição. A peça tem ainda uma veia cômica.
'Cá com meus botões', não encontro obra outra na Literatura que me encante tanto e da mesma forma como o primeiro 'livro amado do meu coração' - 'Dom Camurro':
'' Todo eu era olhos e coração, um coração que desta vez ia sair, com certeza, pela boca fora. Não podia tirar os olhos daquela criatura de quatorze anos, alta, forte e cheia, apertada em um vestido de chita, meio desbotado. Os cabelos grossos, feitos em duas tranças, com as pontas atadas uma à outra, à moda do tempo, desciam-lhe pelas costas. Morena, olhos claros e grandes, nariz reto e comprido, tinha a boca fina e o queixo largo. As mãos, a despeito de alguns ofícios rudes, eram curadas com amor, não cheiravam a sabões finos nem águas de toucador, mas com água do poço e sabão comum trazia-as sem mácula. Calçava sapatos de duraque, rasos e velhos, a que ela mesma dera alguns pontos.''
As descrições rápidas, mas eficazes, feitas de modo quase caricatural, enfeitam esta que para mim é uma das obras máximas da Literatura Brasileira, ignorá-la é como dizer 'não' para o amor, ou manter-se trancado dentro de uma caverna quando o dia lá fora é bonito e tem borboletas. Mas é ainda ignorar uma parte escura e necessária do mundo, onde ressona um silêncio 'casmurro' sob ecos de melancolia e de Shakespeare.
- não preciso nem referir-me ao que penso sobre Machado de Assis, este gênio da Literatura Brasileira. Quando alguém diz-me que não gosta do que escreve Machado de Assis, eu simplesmente pasmo. Faço das minhas palavras as mesmas ditas por Harold Bloom no 'Cânone Ocidental', onde disse que se Machado de Assis tivesse escrito em inglês ou francês, seria um novo Balzac ou até mesmo uma espécie de Shakespeare no romance e em outros gêneros narrativos. Pra mim, ele sempre estará aqui, na minha cabeceira, no meu coração e orgulho-me muito do fato de termos este grande nome na Literatura Brasileira e Lusófona. -
''(...) Agora , por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. (...)''
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: Abril Cultural, 1981.
Louis Garrel e sua pálida melancolia no inverno de Paris,
gosto de suas olheiras,
do seus gestos tristes que revelam uma personagem extremamente sensível e ao mesmo tempo, alguém cheio de poder de regeneração. Esta regeneração chega através dos braços do bretãozinho, Ewain. 'Les chansons d'amou' e Garrel é só poesia, só poesia...
Terminei de reassistir a minissérie 'Maysa - Quando fala o coração'. Maysa acabou com meu estoque de lenços. O último capítulo da minissérie, principalmente, emocionou-me muito. As cenas em que Maysa e Jaime se reconciliam são extremamente tocantes. Acho difícil que alguém consiga não chorar nestas cenas. Eu não consegui. Estou em êxtase, reassistir esta minissérie deixou-me extremamente tocado por algo que ainda não sei... Talvez, seja apenas a minha melancolia. Talvez, Maysa, durante estes dias, com sua história e suas canções, tenha dado um corpo para minha melancolia, pois eu a senti como se ela fosse um outro ser humano, agarrado a mim, cantando-me coisas tristes, falando-me de amor e de coisas 'humanas', vi a minha humanidade tocada como poucas vezes antes.
A primeira vez que assisti esta minissérie foi há três anos, quando estava sendo transmitida pela primeira vez, na Tv. Contudo, desta vez, revendo-a, percebi muitas outras coisas que antes me fugiram, que antes não faziam sentido para mim. Hoje, estas coisas fazem sentido. Mas isso talvez se dê pelo fato de eu não ser mais aquele garoto, com recéns dezessete anos completos. Eu sou um outro, com muitas outras coisas vividas, pensadas, sentidas e sofridas. Hoje, me sinto mais próximo das coisas que Maysa tanto fala e nos mostra em sua história e suas canções, sinto-me próximo de algo que nem se quer consigo nomear, ou talvez consiga. Sinto-me próximo de 'minha humanidade', ou talvez, deva dizer 'maturidade'... Que seja. Não procuro muitas respostas ainda. Não nesta noite, pelo menos. Ainda estou me vestindo com as dúvidas e com a esperança.
Terminado de assistir o último capítulo da minissérie, eu fui ao youtube, comecei a assistir o especial: ''Maysa: estudos'', que tem quase uma hora de duração apenas, produzido em 1975 pela Tv Cultura. Neste programa, vemos a verdadeira Maysa. A verdadeira Maysa Monjardim a falar de si, de amor, da vida, de saudade... Este é um sentimento que me fica, tanto ao ver a minissérie, como ao ver o especial da Tv Cultura. Maysa foi fundo no que entendemos como 'saudade' e entendo bem isso quando ela diz, em certo momento, com seus olhos incrivelmente verdes, que '' nada é para sempre''. Conhecendo a história dela como conheci nestes dias, quase pude entender do que ela falava. Quase pude entender de quais momentos ela sentia saudade e lembrava com melancolia e claro, com alegria também. ''A vida é irrecuperável'' - diz o ator/apresentador/diretor Antônio Abujamra.
Acho que vou sempre sentir saudades. Saudades de pessoas que passaram em minha vida e que se foram. Saudade de momentos que vivi, de situações, lugares, cheiros, comidas, dias, fins de tarde, árvores... Vou lembrar, com a garganta apertando, de coisas que eu tive e vivi e que, por um motivo ou outro, foram-se. Mas as coisas são mesmo assim, tudo se vai e vem, algumas coisas e pessoas voltam. Eu torço, torço para que eu possa ter algumas coisas de volta, reviver novamente alguns momentos... Porém, estes já serão outros momentos, 'outras pessoas', talvez. Ainda assim, eu torço. Tantos dias e momentos ainda estão por vir, não é? Venham.
Despeço-me deixando-vos com estas indagações/inquietações/reflexões. Despeço-me e deixo-vos a doce, forte e contundente voz de Maysa, cantando nada menos do que 'Ne me quite pas'. Aproveito para vos indicar o link de um blog, onde encontram todos os vídeos deste especial da Tv Cultura, 'Maysa : estudos', organizados e em sua respectiva ordem: