sábado, 18 de maio de 2013

sem musas nem estrelas.

hoje não me apetece falar da noite bonita
que se estende lá fora,
nem dos anjos de cabelos loiros
e túnicas roxas,
que supostamente tecem
os versos tristes de todos os poetas.

as estrelas estão lá, pois,
brilhantes e longínquas,
impossíveis,
mas elas não me dizem nada.

apetece-me falar do cadarço
do sapato da Mariazinha,
que caiu esborrachada
e amassou seu vestido novo;
do João que morreu
atravessando a rua,
quando ia comprar o jornal;
das colherinhas de açúcar
que despejo no café,
com as quais meço os meus dias.

apetece-me, finalmente, a poesia que dança
nas nádegas do rapaz que passa,
exibindo a sua calça laranja.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

querida menina da lua,

não pense você que eu lhe esqueci.
Não, meu bem.
Vivo eu tresloucado
a correr os dias
e só tenho tempo de parar
para o cafezinho da tarde
e escrever os meus versos atropelados.

Há-de chegar, sim, o dia
em que poderemos
nos  perder nas tardes calmas
de um verão qualquer,
tomando chá,
falando de coisas banais
e do sorriso dos anjos!

O corvo.

poemas e palavras
reciclam-se
como dias, noites e estrelas
- não há verso que morra
e não nasça de novo
na boca de outro poeta,
ainda que venha vestindo
outra cor,
outra dor,
outro sabor.

A poesia persiste,
é pássaro que choca dentro
da gente - aquele corvo saiu de mim,
fugiu quando abria a boca num bocejo:

nunca mais!

A LUA NA JANELA

a lua na minha janela
sorri aberta como um anjo,
dando boa-noites a quem passa pela rua
e lhe lança um olhar-suspiro

O CISCO


...tardes volumosas e agitadas movem-se dentro de mim,
chacoalham-se como macacos alvoraçados
que veem seus filhos sendo levados embora
- uma selva de gentes, carros, convites para cafés,
bilhetes, braços e mãos estendidas por mera convenção.

Fumo um cigarro a pensar...
a pensar na palavra-fuga,
na mordaça à balbúrdia que se instala
dentro de mim.
calem-se os babuínos famintos
que dilaceram-me os dias
com sua pressa, afinal!

Mas nada nada é suficiente,
nada nada que possa ser a dose
certa de camomila!

*

Passos vagos numa estrada de pedra,
perdem-se os olhos
e os ouvidos afinam-se:
uma flauta celta
canta tristemente ao fundo da via-sacra.
É como se alguém morresse, afinal.
O mundo nem dá por isso.
O mundo nem dá por mim.

CATAPLIN:
Lá está,
um cisco de diamante,
a pedra perdida do anel de
uma noiva-fantasma
que vaga na terra
e vela as noites e sonhos
dos que não tem medo de si.
Olhar para o céu salvou meu dia!
Eis a fuga que meus olhos ansiavam:

o impossível.

O CHORO

em dias assim chorosos
eu até acredito
que haja algum deus amigo,
que cansado dos meus suspiros,
atenda o meu pedido:

«Ok, vá lá, suspira aliviado,
o dia hoje chorará por ti
e terás motivo pra sorrir!»