sábado, 21 de julho de 2018

no meu coração tu passeias
corres na areia
mergulhas e te banhas
andorinha
por causa de ti
em mim não há inverno
só verão
e dias assim
tão azuis.



segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Cielo vivo (Federico Garcia Lorca)

Yo no podré quejarme
si no encontré lo que buscaba.
Cerca de las piedras sin jugo y los insectos vacíos
no veré el duelo del sol con las criaturas en carne viva.

Pero me iré al primer paisaje
de choques, líquidos y rumores.
que trasmina a niño recién nacido
y donde toda superficie es evitada,
para entender que lo que busco tendrá su blanco de alegría
cuando yo vuele mezclado con el amor y las arenas.

Allí no llega la escarcha de los ojos apagados
ni el mugido del árbol asesinado por la oruga.
Allí todas las formas guardan entrelazadas
una sola expresión frenética de avance.

No puedes avanzar por los enjambres de corolas
porque el aire disuelve tus dientes de azúcar,
ni puedes acariciar la fugaz hoja del helecho
sin sentir el asombro definitivo del marfil.

Allí bajo las raíces y en la médula del aire,
se comprende la verdad de las cosas equivocadas.
El nadador de níquel que acecha la onda más fina
y el rebaño de vacas nocturnas con rojas patitas de mujer.

Yo no podré quejarme
si no encontré lo que buscaba;
pero me iré al primer paisaje de humedades y latidos
para entender que lo que busco tendrá su blanco de alegría
cuando yo vuele mezclado con el amor y las arenas.

Vuelo fresco de siempre sobre lechos vacíos,
sobre grupos de brisas y barcos encallados.
Tropiezo vacilante por la dura eternidad fija
y amor al fin sin alba. Amor. ¡Amor visible!


Poema extraído do livro Poeta en Nueva York.
medusas
brilhantes
gigantes
do pacífico
a brilhar no mais profundo azul
estrelas distantes
fluídicas
pelágicas
da galáxia oceânica
anãs marrons, vermelhas, amarelas, gigantes azuis
movem-se, caem
flutuam à superfície
à borda do seu universo
e morrem
secam
desaparecem
mas não sem antes queimar a mão de algum miúdo

medusas
brilhantes
água viva
e água morta
são como nós
seus corpos desaparecem
como se nunca tivessem existido.



domingo, 28 de janeiro de 2018

pobre Orpheu
da antiguidade
perdido em sua soledade
abandonado
do amor amargurado
na Trácia pela fúria assassinado

para cada lado um membro
só a cabeça com a cabeleira extensa intacta
seu rosto triste e humano
a escapar das mãos das feras

a correr pelo rio abaixo
do tempo, das eras

reencarnado, ressuscitado, relembrado
sempre que a brisa é fria
e há espaço n'algum ser
para poesia

no oceano da vida
ser orpheu é cantar
ainda que haja sangue

hastear a bandeira da doçura
da esperança
quando só restar a loucura
e à porta dos infernos
falar de amor, de perdão e de ternura

orpheu sacrificado
Cristo também foi
na cruz que matou seu corpo,  não seu sonho.

para ti, pequeno,

meus versos
meus olhos
meu corpo
minha vontade
o sonho de amplidão
coração
vastidão do (a)mar. 




domingo, 26 de novembro de 2017

meteoros

meteoros atingem a Terra todos os dias
como mariposas que ousam entrar no abajur
seduzidas pela luz, pelo calor

meteoros no entanto
adentam a atmosfera terrestre
para se esfriar, já que eles são consciências
ardentes em busca de tranquilidade

meteoros rasgam o céu sem pena
dilacerando nuvens brancas que sonham em ser chuva
amanhã

meteoros surgem na noite da Sibéria
e encantam um menino pastor
que sonha sem precisar da internet

meteoros buscam o conforto
da terra fria de nosso planeta
que  os ajudam a encontrar equilíbrio

meteoros não servem para nada
caem na terra, fazem estrondo
e iluminam inutilmente as noites mais silenciosas

meteoros só servem talvez
para mim
que queria escrever um poema sem saber sobre o quê

meteoros são as palavras no cérebro de um poeta
que sonha em ser lúcido em um tempo sem lucidez
que se diverte imitando  Rimbaud, Lorca e Pessoa,
meteoros que também caíram na Terra. 

NAVEGANDO



para ti.


navegando, navegando
mar à frente
enquanto pelo meu corpo
o sabonete de camomila faz um desenho de espuma
e a luz do basculante é o sol gigante
de novembro
a anunciar o verão rompante
e espetacular de todos os seres


navegando, navegando
uma garça à beira-mar
poisada contempladora do futuro
a sonhar o amanhã luminoso
em que teus dedos
brinquem a desenhar nuvens
nas ondas do mar
que são as espumas a escorrer com delicadeza
por minhas costas

navegando, navegando
para casa
para dentro
cruzando os céus
como pássaros migratórios
que não se perdem

navegando, navegando
dentro de nós mesmos
dos nossos olhos aquosos
que são oceanos de luz e vida
onde vivem as mais belas
medusas do pacífico

navegando, navegando
para uma manhã de abril
nossa cama e nossos lençóis
brancos
como a paz mais profunda
e verdeira que nos pode assaltar

navegando, navegando
enfim nossos pés que se encontram
e se roçam
desenhando um coração
a forma dum antigo lago de sal
invadido pelo derretimento
criativo das geleiras e refeito
de mar e amar

não há mal que não traga um bem
não há barco ou garça que não encontre
um porto, um cais, o sol.

C. Berndt
26/11/2017

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

SOL E NETUNO

disse-me a astróloga de voz doce
e suave
que nesta semana há um encontro fluente
entre o Sol e o planeta Netuno
ou seja
anuncia-se
soturno
verdadeiro convite no céu
para exercícios aquáticos de autognose
livre e demorada navegação
mergulhos convictos nas profundezas
mais fundas do nosso espírito
e lá
no que há de caos e de sossego
aprender algo sobre nós mesmos
sobre o mar que somos
e o amar de que tanto precisamos


e desse mar de Adasmatores
de movimentos involuntários, dores e amores
saibamos então ser o timoneiro
que flutua lúcido
que atravessa o bojador
com calma e paciência
e sabe a hora exata de regressar e de chegar
à esta finisterra
América fugaz e etérea
interno, individual e fecundo
Novo Mundo

quando voltares à superfície
os raios agressivos dos olhos de Apolo
iluminarão teu rosto
e o corpo de Netuno
agora redescoberto (por ti)
tomará finalmente tua mente
rompendo todo o azul placentário:
já podes flutuar sobre as águas como Cristo
a mão que te toca é a de João Batista

ninguém pode ir ao céu se não
nascer de novo
da água e do espírito.

C. Berndt
30/10/2017

terça-feira, 26 de setembro de 2017

dum domingo.

para ti, pequeno.


domingo
essa melancolia exposta
transposta
nossa
que coça
roça
o corpo
a mente
passa pelas costas
chega morna aos pés
que sentem falta de outros pés
os teus, querido
neste domingo frio
em que bebo chá
escrevo
penso na vida
e me curo de um resfriado
amanhã volto, amanhã
regresso para casa
e para ti
a felicidade tocará então meu rosto
minha alma
ao te sentir comigo
mas o que seria, diz-me,
o que seria, amigo
da alegria
do prazer
do sorriso
da nossa epiderme a se arrepiar
sem esses domingos mornos
de suave melancolia
em que a gente suspira
e se atreve
a escrever versos
uma qualquer poesia...

pensando bem
esqueça essas palavras todas, esqueça
este sal
este mal
vem ouvir comigo
a Gal
já que hoje é só um dia de domingo...

**
C. Berndt

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

20/09/2017

querer dizer
dizer, traduzir
em palavra de poeta
em linha
em verso
o que dentro da alma palpita
é por vezes impossível
é coisa que não sai, por mais que tudo cheire a poesia

é ver diante o sol e não sentir seu calor na pele
ou ir ao mar e não molhar ao menos os pés

então
o poeta adia
o sono e a hora de deitar
mesmo sabendo que sentirá falta desses minutos na cama
quando acordar
para poder escrever
poder dizer
a dor que sente quando não consegue
dar vida e materialidade ao que a pele já sentiu

então ativa-se a memória
e ele tenta lembrar das coisas boas
e também tristes
que merecem ser contadas num poema
um poema que valha a pena
que dê algo ao leitor
um suspiro, um minuto de alívio,
de redenção ou de indignação
uma dor
a certeza de que há em todas as esquinas
de nossas vidas
algum amor

a despeito de todas as guerras
é de amor que o poeta quer falar
também
do amor que sente por um rapaz
do amor que sente pela mãe ou pela sobrinha
do amor que julga ser o norte desse mundo
e que ainda é esquecido, por ora
do amor que se avizinha no horizonte
afinal
o primeiro minuto da madrugada de agora
prenuncia já a manhã clara

a manhã clara
lúcida
brilhante
terna e macia
aos nossos olhos e corpos
em que o poeta despertará de seu sono
em paz
com a sensação fugaz
de ter sonhado e não escrito essas palavras.
**

C. Berndt