domingo, 30 de dezembro de 2012
sábado, 29 de dezembro de 2012
Alma solitária
E assim,
como uma triste noiva abandonada e soluçante no altar,
a noite vai passando.
E passa de baixo da minha janela,
cantando os versos do poeta da minha terra:
que cítaras soluçam solitárias
pelas Regiões longínquas, visionárias
do teu Sonho secreto e fascinante!
Quantas zonas de luz purificante,
quantos silêncios, quantas sombras várias
de esferas imortais, imaginárias,
falam contigo, ó Alma cativante!
Que chama acende os teus faróis noturnos
e veste os teus mistérios taciturnos
dos esplendores do arco de aliança?
Por que és assim, melancolicamente,
como um arcanjo infante, adolescente,
esquecido nos vales da Esperança?!''
Alma solitária, poesia de Cruz e Souza.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
Para o norte, andorinha, para o norte:
Ó,
estou cansado de andar,
os meus pés doem de pisar essa terra
dura e magoada,
cheia de espinhos e desencontros.
Tantos desencontros,
tantas pontes levantadas em vão:
quase ninguém chega
do outro lado da margem.
E há quem mergulhe neste rio
chamado solidão
e afunde nele com pedras
amarradas na cintura,
na esperança de adormecer
em tudo e para sempre,
de esquecer-se.
Eu também sonho
com esse adormecer,
mas falta-me a coragem
e também
e também
que os meus olhos deixem de brilhar quando veem estrelas.
Mas, ó, bem queria outro tipo de adormecer,
um mais mágico e mais pueril:
quem me dera deitar-me homem e
acordar-me pássaro,
de penas, bico e asas,
livre, pequeno, leve
e esquecido,
Tranquilo.
Ser,
ser uma andorinha,
pra encontrar de novo o meu Norte
e d'ele nunca mais voltar.
O verão ainda está longe
e não posso mais viver pensando no amanhã:
vou deitar-me,
ao menos nos sonhos,
a minha alma voa
e beija os lábios de quem amo.
Ouves os meus suspiros,
andorinha, ouves?
pois então,
leva,
leva a minha saudade
e a vontade dos meus beijos para ele,
já que tu tens asas
e eu
só os sonhos e espasmos.
ah.
deixa escapar o verso.
ele sempre volta.
volta
pra te assombrar,
pra acordar o teu sono
e romper com teus sonhos.
o corvo-profeta não abandona
o alpendre da tua janela, jovem poeta.
vem sempre gritar aquele ''nunca mais''
que te faz condoer-se pelas tristes palavras
que ele canta.
e,
como milagre da madrugada
-milagres só acontecem quando o sol descansa-,
faz de ti quem resignifica, quem reinventa,
a mágoa que bebe do coração de ambos
- do corvo e do poeta.
domingo, 2 de dezembro de 2012
O guarda-roupa e as estrelas.
deixo o papel,
amoleço a mão e abandono a caneta.
Tenho de dizer olá à noite!
ao anoitecer,
os minutos crepusculares
que sempre me causam esta dolência,
este pesar nas pálpebras da alma
- uma dor que lateja bem fundo, sabe?
que vem não sei d'onde e nem porquê...
Uma vontade de rir e chorar,
uma angústia apertada
que me faz querer correr pr'a dentro...
dentro de mim?
os minutos crepusculares
que sempre me causam esta dolência,
este pesar nas pálpebras da alma
- uma dor que lateja bem fundo, sabe?
que vem não sei d'onde e nem porquê...
Uma vontade de rir e chorar,
uma angústia apertada
que me faz querer correr pr'a dentro...
dentro de mim?
Procuro o guarda-roupa da sala vazia,
lugar secreto, onde escondo os meus versos.
É assim desde que sou muito pequeno
- debruçado sobre a janela,
palpitante como a noite que se desfia,
contando estrelas,
crente de que as histórias que elas cantam
são ouvidas só por mim.
domingo, 11 de novembro de 2012
In a sentimental mood
But now it has happened,
No use in talking
The silence between me and you
Has never had meaning.
It was, love it, that was all
That was asked.
But now it has happened,
No words for the foretime,
The desperation has made me the same,
Has made me another.
Who looks at the shape of the fish
Grow giant on the side of his bowl,
Who walks on the terrace
Observing foliage from above,
Who hears the snapping of plastic
That wraps like cellophane
Bare branches of climbers?
You don't know, and I
Who descend the stairs neither,
I am the same, I am another.
No use in talking
The silence between me and you
Has never had meaning.
It was, love it, that was all
That was asked.
But now it has happened,
No words for the foretime,
The desperation has made me the same,
Has made me another.
Who looks at the shape of the fish
Grow giant on the side of his bowl,
Who walks on the terrace
Observing foliage from above,
Who hears the snapping of plastic
That wraps like cellophane
Bare branches of climbers?
You don't know, and I
Who descend the stairs neither,
I am the same, I am another.
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
12:21 – aquele momento efêmero, depois do almoço, em que
sentamos n’algum banco, com a alma cheia
de sono e vagar, e olhamos em volta:
Vejo-o de longe,
sentado com suas pernas abertas de homem.
homem macho – a contemplar o mundo,
um mundo que cabe entre as suas pernas?!
Acho-o lindo – com suas pernas de homem
com suas pernas e seus pêlos de homem,
com seu ar de homem que pensa
ser dono do mundo porque este
mundo que há
parece caber entre as suas
pernas.
Ele fuma. Admira o céu e olha a tudo e todos
como se estivesse por cima.
Acho-o lindo – deitaria-me com ele,
despiria as suas roupas, despiria
e jogaria a um canto
o seu imbecil ar superior de homem.
Os seus cabelos balançam
- ele gosta do vento que embala o seu ego.
Dá uma última tragada, levanta-se cauteloso,
– parece esperar por alguém,
só parece,
ele está só – só com seu ar de
homem.
Vai embora – com ar desiludido,
olhando para trás,
de certo pensa
que ninguém reparou no quanto ele
abriu as pernas.
Eu reparei – mas ele jamais vai saber disso.
Para onde vai tanto ego?
Aonde te leva – nos leva – todo esse inflar de sensações, de
aparências?
Tudo não se esvazia, foge e se escapa no fim de um orgasmo?
Orgasmo – é para isso que os homens abrem as pernas?
Já não o vejo,
nem o balançar delicioso de suas nádegas – dois lindos e
redondos gomos de laranja.
Ah. O meu cigarro também chegou ao fim
– desfez-se, virou fumaça, fluído.
– desfez-se, virou fumaça, fluído.
Tudo desfaz-se e é vão
– o teu ar superior de homem e a minha poesia.
– o teu ar superior de homem e a minha poesia.
Poesia vã, que só vale o tempo de um cigarro.
Tudo é vão.
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
Mary Shalley - Mathilda Kovak
''Eu vou fazer um homem, com restos de outros homens...
eu quero um homem pra mim, um homem''
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
O Fado da procura
De repente, não mais que de repente, sinto uma 'vontade/saudade' de apanhar um comboio e passar a tarde em Lisboa, caminhar da baixa ao bairro alto, passear meus olhos sobre os azulejos, ouvir um ou outro fado enquanto passo na rua...
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