Já sobre a fronte vã se me acinzenta
O cabelo do jovem que perdi.
Meus olhos brilham menos.
Já não tem jus a beijos minha boca.
Se me ainda amas, por amor não ames:
Traíras-me comigo.
Ricardo Reis, in "Odes"
(Heterónimo de Fernando Pessoa)
domingo, 29 de novembro de 2015
sábado, 28 de novembro de 2015
caminho de Santiago
sigo o caminho do peregrino, a via sacra de terra,
comecei pelo ópio, mas antevejo a salvação
é noite e meus olhos castanhos miram o céu com admiração,
colcha negra manchada de esperma,
esperma divino, é certo,
qual dos deuses terá sido o autor da imensa ejaculação?
e no norte gélido vejo a Ursa mãe,
brilhante constelação,
guardada pelo boieiro desumano,
que em sua rouca voz de animal diz ao filho que não mais a reconhece:
o amor de Zeus nos condenou, a ira de Hera verteu nosso sangue,
destino arcano!
fecho os olhos então
e já não mais estou
no norte do atlântico,
mas no sul sidéreo, onde quem brilha na noite é o crucifixo etéreo,
teu corpo sob o meu é agora como a colcha que o deus sujou,
entre as estrelas negras que são teus sinais, surge como mágica, cândida,
esplêndida,
gigante e brilhante galáxia, obra efêmera,
delícia da carne e da paixão,
caminho de Santiago nascido da minha ejaculação!
***
C. Berndt
quinta-feira, 12 de novembro de 2015
Eu: Zeus, volúpia, fome, astúcia.
Tu: Ganímedes, delicadeza, sensualidade, beleza.
Eu deveria te raptar, sim.
Mas é preferível que tu venhas até mim.
Adormeça agora o teu corpo e, liberto dos grilhões da matéria,
voe, venha, estou aqui.
Hoje, dá-me o ânimo, o espírito.
Amanhã, dá-me o pão, que é teu corpo.
Estará completa a Eucaristia
quando depositares em minha boca
o vinho e o gozo
dizendo-me contente: o corpo de Cristo.
***
C. Berndt
12/11/2015
Tu: Ganímedes, delicadeza, sensualidade, beleza.
Eu deveria te raptar, sim.
Mas é preferível que tu venhas até mim.
Adormeça agora o teu corpo e, liberto dos grilhões da matéria,
voe, venha, estou aqui.
Hoje, dá-me o ânimo, o espírito.
Amanhã, dá-me o pão, que é teu corpo.
Estará completa a Eucaristia
quando depositares em minha boca
o vinho e o gozo
dizendo-me contente: o corpo de Cristo.
***
C. Berndt
12/11/2015
sexta-feira, 6 de novembro de 2015
FOGO-FÁTUO
os meus olhos no Horizonte fixos
num mar infinito, doloroso, de muitos crucifixos
em peitos de poetas
e vidas de homens e mulheres
fincados
à força,
no Horizonte infindo,
eu vi, nesta noite incauta,
translúcida,
encoberta de poesia e silêncio,
eu vi, sem nuvens, longe, pulsante, vivo, no Horizonte,
o fogo que corre, o fogo fátuo, quente,
eterno, vibrante,
nascido das florestas de ontem,
ancestrais,
onde
antes, do tempo, havia o nada,
sem voz e frio,
eu vi, qualquer coisa no cio,
pronta para me engolir,
sentir, tocar, masturbar,
do inferno e do céu vir
para me mostrar qualquer coisa de eterno
e fugaz,
eu vi, lá,
no fim, sem ar,
onde há o azul e tudo é quase negro
e o sóis pura melancolia,
eu vi, lá,
o que um dia os povos primeiros
da América, desta terra,
puro degredo,
terra roubada, violada, ferida,
que antes tinha outro nome, nome esquecido,
por certo,
a luz, a vontade, o facho, a luxúria, o sonho, a ira,
o falo, a espada, o útero,
de um deus, sujo, impuro, humano,
quente, ardente,
tonto, incoerente,
brilhante, eu vi, verdadeiro carcará,
a circular, a voar,
a me chamar,
aquele
que eles
chamavam boitatá,
a face de um homem,
do demônio,
do futuro, olhos de mercúrio,
perjúrio,
eu o vi, fantasma, espectro, destino,
onda, raio solar,
doce sensação dos corações que amam,
eu te vi, engano,
luz maldita
ou bendita, não sei o que é pior,
eu te vi,
no Horizonte,
serpente,
distante, muito distante,
infelizmente,
perdendo-se, caindo, sumindo
para sempre,
sem nunca nunca nunca
pisar o chão novamente
e pedir-me, dolente,
cansado, contente, perdão,
perdão, amado, querido, odiado
D. Sebastião.
C. Berndt
num mar infinito, doloroso, de muitos crucifixos
em peitos de poetas
e vidas de homens e mulheres
fincados
à força,
no Horizonte infindo,
eu vi, nesta noite incauta,
translúcida,
encoberta de poesia e silêncio,
eu vi, sem nuvens, longe, pulsante, vivo, no Horizonte,
o fogo que corre, o fogo fátuo, quente,
eterno, vibrante,
nascido das florestas de ontem,
ancestrais,
onde
antes, do tempo, havia o nada,
sem voz e frio,
eu vi, qualquer coisa no cio,
pronta para me engolir,
sentir, tocar, masturbar,
do inferno e do céu vir
para me mostrar qualquer coisa de eterno
e fugaz,
eu vi, lá,
no fim, sem ar,
onde há o azul e tudo é quase negro
e o sóis pura melancolia,
eu vi, lá,
o que um dia os povos primeiros
da América, desta terra,
puro degredo,
terra roubada, violada, ferida,
que antes tinha outro nome, nome esquecido,
por certo,
a luz, a vontade, o facho, a luxúria, o sonho, a ira,
o falo, a espada, o útero,
de um deus, sujo, impuro, humano,
quente, ardente,
tonto, incoerente,
brilhante, eu vi, verdadeiro carcará,
a circular, a voar,
a me chamar,
aquele
que eles
chamavam boitatá,
a face de um homem,
do demônio,
do futuro, olhos de mercúrio,
perjúrio,
eu o vi, fantasma, espectro, destino,
onda, raio solar,
doce sensação dos corações que amam,
eu te vi, engano,
luz maldita
ou bendita, não sei o que é pior,
eu te vi,
no Horizonte,
serpente,
distante, muito distante,
infelizmente,
perdendo-se, caindo, sumindo
para sempre,
sem nunca nunca nunca
pisar o chão novamente
e pedir-me, dolente,
cansado, contente, perdão,
perdão, amado, querido, odiado
D. Sebastião.
C. Berndt
EURIDICE (Miguel Torga)
Agora,
São as Fúrias
Que me dilaceram.
O que de ti me deram
Os deuses infernais,
Não era teu.
Sombra dum sonho que já não vivias,
Em vez de iluminar, enegrecias
O caminho de Orfeu.
E fitei-te nos olhos, luzes mortas.
Caronte abrira as portas
Da minha perdição.
Todos os condenados,
Libertados
No momento supremo do meu canto,
Regressavam ao pranto
Da condenação.
E eu próprio ia arrastar
A minha pedra de desassossego.
Eu próprio ia ter sede
E fome, eternamente.
Eu próprio recebia,
No espírito e na carne,
O beijo enraivecido
Das Iras,
Que não perdoam a nenhum mortal
As divinas mentiras
Que o amor desmascara, por seu mal.
Miguel Torga em Orfeu rebelde.
São as Fúrias
Que me dilaceram.
O que de ti me deram
Os deuses infernais,
Não era teu.
Sombra dum sonho que já não vivias,
Em vez de iluminar, enegrecias
O caminho de Orfeu.
E fitei-te nos olhos, luzes mortas.
Caronte abrira as portas
Da minha perdição.
Todos os condenados,
Libertados
No momento supremo do meu canto,
Regressavam ao pranto
Da condenação.
E eu próprio ia arrastar
A minha pedra de desassossego.
Eu próprio ia ter sede
E fome, eternamente.
Eu próprio recebia,
No espírito e na carne,
O beijo enraivecido
Das Iras,
Que não perdoam a nenhum mortal
As divinas mentiras
Que o amor desmascara, por seu mal.
Miguel Torga em Orfeu rebelde.
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
PARA O DIA DOS ''MORTOS''
E dizem as vozes do Além-túmulo:
Mais mortos estão vós.
Presos à gaiola orgânica, podeis ver tão pouco, sentir tão pouco,
compreender ainda tão pouco.
Quando, enfim, se rompem os grilhões
e voltamos à Pátria do Espírito,
voltamos ao nosso estado natural,
os ouvidos então se afinam, a visão se desentorpece,
o véu que encobria a memória milenar é desfeito como fumaça
e o passado nos surge diante dos olhos, tudo se torna mais claro.
Aqui, deste lado, somos mais vivos, mais livres e mais conscientes.
Aqui está a vida.
A Terra, portanto, é nada mais que
estação, escola, temporária prisão,
rio onde vamos, repetidamente, enquanto ainda precisamos,
lavar-nos de nossos erros e vícios,
aprender a amar, a limpar e semear o bem nos corações.
Não chorai pelos mortos nesse dia que atribuís aos mortos.
Não há morte.
O Universo é onda, movimento, fluxo constante,
eternidade,
nada está parado, estagnado, em desuso ou abandonado.
Chorai, sim, pelos que ainda vivem sem se dar do conta do amor,
lei universal da qual ninguém pode fugir.
Pode-se dizer que viver sem amor,
seja na Terra ou em qualquer outro lugar,
estando encarnado ou desencarnado,
é a única experiência de morte que existe.
A ignorância, o ódio, o orgulho e o egoísmo fazem de nós árvores secas, ervas daninhas, ou mesmo uma grande porção de terra ociosa, abandonada, preguiçosa.
Amar é crescer, movimentar-se, libertar-se,
auxiliar a Providência em seus desígnios
e tornar-se, pouco a pouco,
merecedor da Felicidade a que todos estamos destinados.
Lembrai do que vos disse São Francisco,
espírito humilde, desapegado e amigo:
''Morrer é viver para a vida eterna''.
Não chorai, não chorai.
E sobretudo não temais a morte.
Morrer só é sinônimo de sofrer quando chegamos aqui,
do lado da Vida, na Terra do Espírito,
de mãos vazias,
sem obras, com as sementes todas desperdiçadas
e nenhum jardim semeado.
É então que temos de retornar
e mais do que morrer, mais do que o corpo físico perder, dói ao espírito ter de na Terra novamente nascer.
Portanto, aproveitai o tempo,
não desperdiçai a vossa encarnação,
aprendei o quanto antes essa lição
e as dores se dissiparão,
exercitai o perdão, a compaixão,
não deixais de dividir o pão
e sobretudo de amar, de amar como amas a ti
o teu irmão.
Mais mortos estão vós.
Presos à gaiola orgânica, podeis ver tão pouco, sentir tão pouco,
compreender ainda tão pouco.
Quando, enfim, se rompem os grilhões
e voltamos à Pátria do Espírito,
voltamos ao nosso estado natural,
os ouvidos então se afinam, a visão se desentorpece,
o véu que encobria a memória milenar é desfeito como fumaça
e o passado nos surge diante dos olhos, tudo se torna mais claro.
Aqui, deste lado, somos mais vivos, mais livres e mais conscientes.
Aqui está a vida.
A Terra, portanto, é nada mais que
estação, escola, temporária prisão,
rio onde vamos, repetidamente, enquanto ainda precisamos,
lavar-nos de nossos erros e vícios,
aprender a amar, a limpar e semear o bem nos corações.
Não chorai pelos mortos nesse dia que atribuís aos mortos.
Não há morte.
O Universo é onda, movimento, fluxo constante,
eternidade,
nada está parado, estagnado, em desuso ou abandonado.
Chorai, sim, pelos que ainda vivem sem se dar do conta do amor,
lei universal da qual ninguém pode fugir.
Pode-se dizer que viver sem amor,
seja na Terra ou em qualquer outro lugar,
estando encarnado ou desencarnado,
é a única experiência de morte que existe.
A ignorância, o ódio, o orgulho e o egoísmo fazem de nós árvores secas, ervas daninhas, ou mesmo uma grande porção de terra ociosa, abandonada, preguiçosa.
Amar é crescer, movimentar-se, libertar-se,
auxiliar a Providência em seus desígnios
e tornar-se, pouco a pouco,
merecedor da Felicidade a que todos estamos destinados.
Lembrai do que vos disse São Francisco,
espírito humilde, desapegado e amigo:
''Morrer é viver para a vida eterna''.
Não chorai, não chorai.
E sobretudo não temais a morte.
Morrer só é sinônimo de sofrer quando chegamos aqui,
do lado da Vida, na Terra do Espírito,
de mãos vazias,
sem obras, com as sementes todas desperdiçadas
e nenhum jardim semeado.
É então que temos de retornar
e mais do que morrer, mais do que o corpo físico perder, dói ao espírito ter de na Terra novamente nascer.
Portanto, aproveitai o tempo,
não desperdiçai a vossa encarnação,
aprendei o quanto antes essa lição
e as dores se dissiparão,
exercitai o perdão, a compaixão,
não deixais de dividir o pão
e sobretudo de amar, de amar como amas a ti
o teu irmão.
sexta-feira, 30 de outubro de 2015
Trecho de ''Teleny, ou o reverso da medalha''
(...)
E tomando as flores de sua lapela, ele as pôs na minha apenas com uma das mãos, ao mesmo tempo em que passava seu braço esquerdo em torno da minha cintura e me apertava com com força, pressionando-me contra seu corpo inteiro por alguns segundos. Esse curto intervalo pareceu-me uma eternidade.
Pude sentir seu hálito quente e ofegante sobre meus lábios. Embaixo, nossos joelhos se tocaram, e senti algo duro comprimir-se e movimentar-se de encontro às minhas coxas.
Minha emoção naquele momento era tal que mal podia ficar de pé; por um momento pensei que ele fosse beijar-me — mais do que isso, os pêlos crespos do seu bigode roçavam ligeiramente os meus lábios, produzindo a mais deliciosa das sensações. Porém, ele apenas olhou no fundo dos meus olhos com um fascínio demoníaco.
Senti o fogo do seu olhar mergulhar profundamente no meu peito, e muito mais abaixo. Meu sangue começou a ferver e borbulhar como um fluido em ebulição, e senti meu... (o que os italianos chamam de “passarinho”, e representavam como um querubim alado) lutar contra a sua prisão, erguer sua cabeça, abrir seus minúsculos lábios e novamente expelir uma ou duas gotas daquele fluido viscoso gerador da vida.
Mas aquelas poucas lágrimas — longe de serem um bálsamo atenuante — pareciam gotas de um líquido cáustico, queimando-me e produzindo uma forte e insuportável irritação.
Eu me sentia torturado. Minha mente era um inferno. Meu corpo estava em chamas.
Bem nesse momento ele soltou seu braço de minha cintura, e este caiu inerte com seu próprio peso, como o de um homem adormecido.
— Você acha que sou louco? — disse ele. Depois, sem esperar uma resposta: — Mas quem é são e quem é louco? Quem é virtuoso e quem é pervertido neste nosso mundo? Você sabe? Eu não.
A lembrança de meu pai me veio à mente e perguntei a mim mesmo, trêmulo, se meu senso também estaria me deixando.
Houve uma pausa. Nenhum de nós falou por algum tempo. Ele havia entrelaçado seus dedos com os meus, e caminhamos por alguns momentos em silêncio.
Todos os vasos sanguíneos do meu membro ainda estavam fortemente distendidos e seus nervos rígidos, os dutos espermáticos cheios a ponto de transbordar; portanto, com a ereção persistindo, senti uma dor surda se espalhar pelos órgãos reprodutores e suas proximidades, ao mesmo tempo em que o resto do meu corpo encontrava-se num estado de prostração, e ainda assim — apesar da dor e do langor —, era um sentimento muito prazeroso caminhar calmamente com nossas mãos entrelaçadas, sua cabeça quase pousada no meu ombro.
— Quando foi que você sentiu pela primeira vez os meus olhos nos seus? — ele me perguntou, num tom baixo, depois de algum tempo.
— Quando você subiu ao palco pela primeira vez.
— Exatamente; então nossos olhares se encontraram, e depois estabeleceu-se uma corrente entre nós, como uma faísca elétrica percorrendo um fio condutor, não foi?
— Sim, uma corrente ininterrupta.
— Mas você realmente me sentiu antes que eu me retirasse, não é verdade?
Como única resposta, pressionei seus dedos com força.
(...)
A carne, o sangue, o cérebro, e aquela indefinível parte mais sutil dos nossos seres pareceram fundir-se num inefável abraço.
Um beijo é algo mais do que o primeiro contato sensual entre dois corpos; é a emanação de duas almas enamoradas.
Mas um beijo criminoso, ao qual se resiste e combate durante muito tempo, e é por esse motivo há muito há muito ansiado, está além disso; é tão luxuriante quanto o fruto proibido; é uma brasa incandescente sobre os lábios; uma marca a ferro quente que queima a fundo, e transforma o sangue em chumbo derretido ou mercúrio escaldante.
O beijo de Teleny era realmente galvânico, pois eu podia sentir seu sabor até em meu palato. Era necessário um juramento, quando já havíamos nos dado tal beijo? Um juramento é uma promessa de boca para fora, que com frequência pode ser, e é, esquecida. Um beijo como aquele acompanha-nos até a sepultura.
Enquanto nossos lábios estavam unidos, sua mão lentamente, imperceptivelmente, desabotoou minhas calças, e sorrateiramente deslizou para dentro da abertura, pondo cada obstáculo em seu caminho instintivamente de lado até tomar posse do meu falo duro, teso e dolorido, que ardia como o carvão em combustão.
(...)
WILDE, O. Teleny, ou o reverso da medalha. São Paulo: Hedra, 2008. *
* Este livro foi publicado anonimamente em 1893, na Inglaterra, e hoje se sabe que se trata de um esforço conjunto de amigos de Oscar Wilde. O autor de ''O Retrato de Dorian Gray'' teria, na verdade, sugerido alguns episódios e dado a forma final ao texto.
DEUS
procuro, nesta noite incauta, eu procuro,
a busca talvez mais óbvia,
mas também mais difícil, demoradamente compreendida pelos espíritos,
procuro por Deus nesta noite,
sim, Deus, a face-luz do Universo, da Vida,
o começo, o meio, a eternidade,
a paz,
a felicidade,
procuro por ele, por Deus,
que pode, o único que pode,
me dar paz, pôr fim aos fantasmas todos que ainda teço,
mas é uma busca difícil, como disse,
somos nós quem temos de caminhar até ele,
que não é um homem, que não é uma mulher,
que é algo para-além da nossa compreensão atual,
ele, o Amor-puro, a Verdade, a
Justiça,
o Todo, a Mãe, o Pai, a causa de todas as coisas,
aquele
que nos criou com todo o seu amor
e que de nós espera o mesmo,
espera que, aos poucos,
aprendamos a ser também amor,
a dar amor, a ensinar amor,
a viver, pensar, sentir
amor,
a pulsar amor,
a distribuir, a mostrar, a orientar os
outros a chegarem lá,
no amor universal,
na liberdade verdadeira e na felicidade
plena,sim,
amar, amar, amar,
dividir o pão,
demolir o orgulho, rasgar as vaidades vis,
matar de todo o egoísmo,
perdoar,
mágoas cindir,
amar, ser leve, manso,
aprender a dar a outra face,
e dedicar ao outro o amor que dedicamos a nós próprios,
abandonar, por fim, o pobre e tolo Narciso
e ser grande, belo e humilde como o Cristo.
segunda-feira, 19 de outubro de 2015
18/10/2015
o que trazem os dias nublados
além desta calma
utópica
plena mansidão
que olha o dia complacentemente
como se fosse o último?
o que trazem os dias nublados
além desta santa
saudade
imaculada e profana
do teu corpo de outrora?
o que trazem os dias nublados
além desta desnuda
vontade
dama sem piedade
de pura introspecção?
o que trazem os dias que se vestem de cinza,
então?
adiantará eu me vestir de vermelho
numa última desesperada tentativa
de dizer que ainda há vida
e paixão, sim, paixão e viço
no meu ser tão sem razão?
adiantará dizer assim
que ainda há lucidez
nos meus passos de lentidão
em direção a janela,
donde olho a avenida e não vejo ninguém,
não há ninguém, não vem ninguém,
tudo é silêncio, libido e pardacento,
devassidão,
um palavrão, um olhar de desdém.
além desta calma
utópica
plena mansidão
que olha o dia complacentemente
como se fosse o último?
o que trazem os dias nublados
além desta santa
saudade
imaculada e profana
do teu corpo de outrora?
o que trazem os dias nublados
além desta desnuda
vontade
dama sem piedade
de pura introspecção?
o que trazem os dias que se vestem de cinza,
então?
adiantará eu me vestir de vermelho
numa última desesperada tentativa
de dizer que ainda há vida
e paixão, sim, paixão e viço
no meu ser tão sem razão?
adiantará dizer assim
que ainda há lucidez
nos meus passos de lentidão
em direção a janela,
donde olho a avenida e não vejo ninguém,
não há ninguém, não vem ninguém,
tudo é silêncio, libido e pardacento,
devassidão,
um palavrão, um olhar de desdém.
27/09/2015
e vou caminhando triste
pulando as poças d'água
em vão
as minhas botas já estão molhadas
e vou pensando na vida
vendo na água o meu rosto, o teu rosto
aquele dia em que atravessei alegre a ponte de Santa Clara pra te encontrar
aquele abraço que não foi suficiente pra me despedir
e vais passando então diante de mim
fugidio
como uma ave branca
fantasma
pulando as poças, perdendo-te na névoa
rindo diabolicamente
ganhando voo
olhando o Iphone sem dar por mim
e vou segurando o guarda-chuva
sem força e sem vontade
completamente encharcado
compondo versos na mente
fingindo que a dor não existe
que não há saudade e que faz sol
não, não está chovendo
eu não estou chorando
e tu nunca cruzaste a avenida para me beijar
pulando as poças d'água
em vão
as minhas botas já estão molhadas
e vou pensando na vida
vendo na água o meu rosto, o teu rosto
aquele dia em que atravessei alegre a ponte de Santa Clara pra te encontrar
aquele abraço que não foi suficiente pra me despedir
e vais passando então diante de mim
fugidio
como uma ave branca
fantasma
pulando as poças, perdendo-te na névoa
rindo diabolicamente
ganhando voo
olhando o Iphone sem dar por mim
e vou segurando o guarda-chuva
sem força e sem vontade
completamente encharcado
compondo versos na mente
fingindo que a dor não existe
que não há saudade e que faz sol
não, não está chovendo
eu não estou chorando
e tu nunca cruzaste a avenida para me beijar
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