como é azul e escuro e cheio
de estrelas
o céu no inverno
vejo claramente os braços leitosos da Via-láctea,
gigantes e flutuantes no espaço
tenho mente imaginativa e pensamentos luxuriosos
frequentemente
imagino de qual deus terá nascido nossa galáxia,
sendo ela uma via de esperma, não de leite materno
e fico a pensar no lugar
que estamos, no lugar
que a Terra fica dentro desta galáxia
li em algum lugar que o sistema solar,
o nosso,
fica no finzinho do fim
da Via-láctea, num dos últimos braços ou dedos mindinhos, vivemos,
portanto, num subúrbio sideral
um dia, senhores, um dia
ainda me vou embora, arrancarei as roupas do varal,
e partirei sem despedidas, vou viver no centro galáctico,
vou ser importante,
vou-me embora,
vou-me embora para Alcíone.
terça-feira, 30 de junho de 2015
quinta-feira, 25 de junho de 2015
RECADO
cortina branca esvoaçante, o vento
a revelar a esconder
teu corpo,
suspiros, o meu canto é uma coisa truncada
eu sei
lágrimas e gotas, dedo ferido
sal e esperma, recebeste minha carta
já devias ter ido
então por que os teus olhos estão cobertos, o travesseiro limpo
a esconder teu rosto
sabes de tudo, eu te falei da distância do mar, do caminho de espinhos
então por que o espanto e a cara de medo
se ainda ontem me disseste pr'a seguir sem a mão no freio
a cigana da praça leu minha mão, esse silêncio é mentira
a borra do teu café diz que sofres de ansiedade todas as manhãs
e o cão do vizinho te perturba porque lembra meu uivo
minha ira
tenho medo de voltar e não existires mais
palavras vagas, espuma, um eco
cortinas brancas sujas de esperma,
isso foi um grito
ou um gemido, não me responda
achas que gosto das respostas, por certo
p.s.: essa gralha que te leva meu recado é esperta, tenhas cuidado, quando não come palavras, cisma em tornar difuso o que devia ser claro, ela teima em ser surrealista.
a revelar a esconder
teu corpo,
suspiros, o meu canto é uma coisa truncada
eu sei
lágrimas e gotas, dedo ferido
sal e esperma, recebeste minha carta
já devias ter ido
então por que os teus olhos estão cobertos, o travesseiro limpo
a esconder teu rosto
sabes de tudo, eu te falei da distância do mar, do caminho de espinhos
então por que o espanto e a cara de medo
se ainda ontem me disseste pr'a seguir sem a mão no freio
a cigana da praça leu minha mão, esse silêncio é mentira
a borra do teu café diz que sofres de ansiedade todas as manhãs
e o cão do vizinho te perturba porque lembra meu uivo
minha ira
tenho medo de voltar e não existires mais
palavras vagas, espuma, um eco
cortinas brancas sujas de esperma,
isso foi um grito
ou um gemido, não me responda
achas que gosto das respostas, por certo
p.s.: essa gralha que te leva meu recado é esperta, tenhas cuidado, quando não come palavras, cisma em tornar difuso o que devia ser claro, ela teima em ser surrealista.
segunda-feira, 22 de junho de 2015
DOS TEUS OLHOS
dos teus olhos
verdes indecifráveis
eu vejo o Mar
aquele que um dia atravessei,
o Mar das lúbricas vagas sobre o qual voei
mesmo sendo eu alguém com tão parcas asas,
o Ícaro de Floripa
mas eu vejo,
dos teus olhos eu vejo o Mar
que me levou ao meu destino, o caminho de cicutas,
Portugal de belas colinas e longos prados,
rapaz bonito, feito de terra e nuvem, por mim amado
até o último segundo
eles, os teus olhos, guri, trazem-me
um pouco
do que lá deixei,
um pedaço do meu corpo perdido
como anel no fundo do Mondego, um amor vivo
por acontecer,
uma flor roxa de mágoa,
uma estrela-marinha, uma pedra gigante,
uma saudade. o entardecer
dos teus olhos, carinho,
eu vejo,
vejo
o Mar
e vou de novo, devagarinho,
como quem dança,
a navegar, a navegar...
verdes indecifráveis
eu vejo o Mar
aquele que um dia atravessei,
o Mar das lúbricas vagas sobre o qual voei
mesmo sendo eu alguém com tão parcas asas,
o Ícaro de Floripa
mas eu vejo,
dos teus olhos eu vejo o Mar
que me levou ao meu destino, o caminho de cicutas,
Portugal de belas colinas e longos prados,
rapaz bonito, feito de terra e nuvem, por mim amado
até o último segundo
eles, os teus olhos, guri, trazem-me
um pouco
do que lá deixei,
um pedaço do meu corpo perdido
como anel no fundo do Mondego, um amor vivo
por acontecer,
uma flor roxa de mágoa,
uma estrela-marinha, uma pedra gigante,
uma saudade. o entardecer
dos teus olhos, carinho,
eu vejo,
vejo
o Mar
e vou de novo, devagarinho,
como quem dança,
a navegar, a navegar...
sexta-feira, 5 de junho de 2015
Quem me leva os meus fantasmas? (Pedro Abrunhosa/ interpretação de Maria Bethânia)
Aquele era o tempo em que as mãos se fechavam
E nas noites brilhantes as palavras voavam
E eu via que o céu me nascia dos dedos
E a Ursa Maior eram ferros acesos
Marinheiros perdidos em portos distantes
Em bares escondidos em sonhos gigantes
E a cidade vazia da cor do asfalto
E alguém me pedia que cantasse mais alto
Quem me leva os meus fantasmas?
...
E nas noites brilhantes as palavras voavam
E eu via que o céu me nascia dos dedos
E a Ursa Maior eram ferros acesos
Marinheiros perdidos em portos distantes
Em bares escondidos em sonhos gigantes
E a cidade vazia da cor do asfalto
E alguém me pedia que cantasse mais alto
Quem me leva os meus fantasmas?
...
terça-feira, 19 de maio de 2015
Vós sois a Luz do mundo!
A paz que tantas vezes nos falta
no mundo, nos rostos, nas ruas
pode ser encontrada onde menos procuramos,
dentro-fundo do peito,
onde o Infinito nos plantou uma semente
de sabedoria e progresso.
A paz
há-de ser alcançada, pouco a pouco,
por cada um e por todos,
quando o mundo for palco de boas semeaduras
e menos egoísmo.
Sentir-se triste?
Para quê?
Lembremo-nos, alguém já nos disse:
Vós sois a Luz do mundo!
**
Mais em: https://www.facebook.com/ajaneladosespiritas?ref=hl
quinta-feira, 14 de maio de 2015
É tempo, é hora... ( por Lúcio Heleno)
Nesse mundo,
não falta quem queira atirar mais uma pedra,
sempre aparecerá quem tenha mais uma palavra
de acusação, uma ofensa gratuita,
um sentimento ressentido, uma mágoa escondida...
Não falta, pois,
quem queira assoprar ainda mais
as brasas das fogueiras do mundo,
não falta quem se felicite com a dor alheia,
e pouco se lembre do que um dia disse o Nazareno:
Quando vestires a um maltrapido,
é a mim que estarás vestindo...
Não falta, nesse mundo de tantas provas
e duras expiações,
quem se ofenda facilmente,
quem do orgulho ferido e mimado
faça guerras,
e sobre a caridade e o perdão
nem mísera menção...
Se ao corpo de muitos falta pão,
a maioria morre sem amor...
Morremos, atravessamos o véu,
voltamos para casa,
muitas vezes igualmente pobres
(de obras)
ao momento em que descemos à carne....
Passamos pelo mundo,
tantas vezes,
quantas flores semeamos, quantos irmãos socorremos,
quantas lágrimas enxugadas, quanto bem espalhado,
quanto tempo aproveitado
(em prol do mundo e não somente de nós) ?
É tempo,
tempo de calar se for ofender,
escutar com humildade para aprender,
perdoar as falhas e erros dos outros
já que não raras vezes erramos
(se não no presente, mas no passado)
mais e de forma mais vergonhosa....
É tempo de apagar as fogueiras de incompreensão
com palavras líquidas de amor e esperança,
é tempo de derrubar montanhas de preconceitos,
e arar a terra (os corações) com humildade
e fraternidade....
É tempo de solidariedade,
de ensinar as crianças a amar em vez
de irrefletidamente (como fazem as feras) revidar o tapa...
É tempo, é hora
de esperarmos o novo mundo,
a Nova Era - ela está à porta!
É tempo de amar, amar,
amar...
É tempo de unir a fé e a razão,
de ver a terra e o céu dando-se as mãos,
tempo de sublimar a matéria com o espírito...
É tempo, é hora
de mudança,
regeneração,
compaixão,
recomeço,
novas energias, novos passos,
a luz de Deus (o Amor Supremo, que tão pouco ainda conhecemos)
a crescer em nós...
Todas as radiantes manhãs são precedidas pela sombra
rápida da madrugada,
é tempo, é hora...
Uma fresta, uma faixa
de luz e felicidade se acende no horizonte,
vivamos!
Vivamos com amor e sabedoria
a nossa eternidade!
não falta quem queira atirar mais uma pedra,
sempre aparecerá quem tenha mais uma palavra
de acusação, uma ofensa gratuita,
um sentimento ressentido, uma mágoa escondida...
Não falta, pois,
quem queira assoprar ainda mais
as brasas das fogueiras do mundo,
não falta quem se felicite com a dor alheia,
e pouco se lembre do que um dia disse o Nazareno:
Quando vestires a um maltrapido,
é a mim que estarás vestindo...
Não falta, nesse mundo de tantas provas
e duras expiações,
quem se ofenda facilmente,
quem do orgulho ferido e mimado
faça guerras,
e sobre a caridade e o perdão
nem mísera menção...
Se ao corpo de muitos falta pão,
a maioria morre sem amor...
Morremos, atravessamos o véu,
voltamos para casa,
muitas vezes igualmente pobres
(de obras)
ao momento em que descemos à carne....
Passamos pelo mundo,
tantas vezes,
quantas flores semeamos, quantos irmãos socorremos,
quantas lágrimas enxugadas, quanto bem espalhado,
quanto tempo aproveitado
(em prol do mundo e não somente de nós) ?
É tempo,
tempo de calar se for ofender,
escutar com humildade para aprender,
perdoar as falhas e erros dos outros
já que não raras vezes erramos
(se não no presente, mas no passado)
mais e de forma mais vergonhosa....
É tempo de apagar as fogueiras de incompreensão
com palavras líquidas de amor e esperança,
é tempo de derrubar montanhas de preconceitos,
e arar a terra (os corações) com humildade
e fraternidade....
É tempo de solidariedade,
de ensinar as crianças a amar em vez
de irrefletidamente (como fazem as feras) revidar o tapa...
É tempo, é hora
de esperarmos o novo mundo,
a Nova Era - ela está à porta!
É tempo de amar, amar,
amar...
É tempo de unir a fé e a razão,
de ver a terra e o céu dando-se as mãos,
tempo de sublimar a matéria com o espírito...
É tempo, é hora
de mudança,
regeneração,
compaixão,
recomeço,
novas energias, novos passos,
a luz de Deus (o Amor Supremo, que tão pouco ainda conhecemos)
a crescer em nós...
Todas as radiantes manhãs são precedidas pela sombra
rápida da madrugada,
é tempo, é hora...
Uma fresta, uma faixa
de luz e felicidade se acende no horizonte,
vivamos!
Vivamos com amor e sabedoria
a nossa eternidade!
quarta-feira, 29 de abril de 2015
O UIVO DO LOBO
o uivo
de um lobo
um lobo uivando
perto de mim
o uuuivo
de lobo
uuuivaando
uuuuuuuuivo
o uivo de um lobo lobo
lobo uivo de
um lobo
um lobo uiva perto de mim
do vidro gelado da janela
onde vejo meu rosto assustado
vejo, ao longe, nas sombras
um lobo
um lobo uivando
um lobo que uiva para a noite
para mim
o uivo de um lobo sozinho
sem grupo
ou alcateia
um lobo medroso
cauteloso
uuuuuuuuivo
uuuuuuuuivo
o uivo
de um lobo
o lobo que sou eu
sibilino
perturbador
solitário
lobo mal
maligno
cruel
passional
que uiva
uuuuiva
pra se sentir acompanhado, menos abandonado
o lobo que uiva para a noite
a lua
as sombras
a luz que se esquiva
o lobo branco negro prateado ou cinzento
feroz
que sou eu
os meus olhos castanhos caninos
reflectidos
no vidro gelado da janela
o lobo
que sou
que somos
um dos outros
o lobo
o lobo que some
mata
foge
escapa
diz
ama
o lobo que uiva
chama
uiva
uivo
uivos
uuuivo....
C. Berndt
de um lobo
um lobo uivando
perto de mim
o uuuivo
de lobo
uuuivaando
uuuuuuuuivo
o uivo de um lobo lobo
lobo uivo de
um lobo
um lobo uiva perto de mim
do vidro gelado da janela
onde vejo meu rosto assustado
vejo, ao longe, nas sombras
um lobo
um lobo uivando
um lobo que uiva para a noite
para mim
o uivo de um lobo sozinho
sem grupo
ou alcateia
um lobo medroso
cauteloso
uuuuuuuuivo
uuuuuuuuivo
o uivo
de um lobo
o lobo que sou eu
sibilino
perturbador
solitário
lobo mal
maligno
cruel
passional
que uiva
uuuuiva
pra se sentir acompanhado, menos abandonado
o lobo que uiva para a noite
a lua
as sombras
a luz que se esquiva
o lobo branco negro prateado ou cinzento
feroz
que sou eu
os meus olhos castanhos caninos
reflectidos
no vidro gelado da janela
o lobo
que sou
que somos
um dos outros
o lobo
o lobo que some
mata
foge
escapa
diz
ama
o lobo que uiva
chama
uiva
uivo
uivos
uuuivo....
C. Berndt
quarta-feira, 25 de março de 2015
ÉS NEVOEIRO
Ó Portugal,
hoje és nevoeiro
És
nuvem de espuma
diante dos meus olhos opacos
num dia de outono
És o invisível,
o que não existe, a quimera
ou quiçá um amor impossível
És
a lembrança de estalos de beijos noturnos
em meus ouvidos tantas vezes surdos
És
a polpa de uma fruta doce e incomum
da qual nem sequer me lembro o nome
És
o perfume do pescoço fino
do homem que não esqueço
És
cortes feitos à unha na pele das minhas costas
no escuro de uma noite perversa
Ó memória,
tu és mesmo uma ave de rapina,
já lá vai o tempo
plainando sobre os múltiplos cadáveres
que saíram de mim
enquanto bebia vinho
e pensava poesia
Ó tempo,
quanto tempo
que estou longe de ti, Portugal,
tu que me és a alegoria mais suave
desse corpo amado
jamais esquecido
e nunca sepultado
Vigio-te, Portugal!
Cuido da nossa antiga cama de afetos,
os passeios calmos à beira do Mondego,
os temporais e os vinhos do Porto,
as tardes em que ansioso te esperei...
Cuido dos travesseiros
de penas, dores e saudades
para que tudo permaneça assim,
vivo
como um coração cheio de sangue,
nada pode perecer em modo estático,
a máquina do tempo não pode parar ainda,
a claraboia do quarto onde nos víamos ainda está aberta
para as estrelas!
Ó Portugal,
hoje és nevoeiro,
este que vem da praia
que caminha p'ra mim,
que revela redes, uma canoa baleeira
vinda flutuante d'alguma parte dos Açores
Nevoeiro
que traz cantos,
sereios,
encantos,
enterrados por mim na areia
como conchas
que me lembram teu rosto
Ó Portugal,
hoje és nevoeiro,
fantasma,
o sonho que melhor teci,
o verso mais perfeito que sem escrever
escrevi,
o amor que à força costurei
e que mais sofrimentos me deu
que sorrir
Pois,
sem que eu queira,
hoje – ainda – és
nevoeiro,
estranho segredo
Ó Portugal,
hoje és
nevoeiro, nevoeiro!
E eu
sou teu novo Encoberto!
Rei poeta
que numa outra vida foi guerreiro!
Esperas por mim – pelo meu regresso –
sem o saber
Quando nos unirmos, num beijo de fim,
saberemos que terá se cumprido
o nosso utópico, distante
telúrico
destino!
C. Berndt
21/08/2012
hoje és nevoeiro
És
nuvem de espuma
diante dos meus olhos opacos
num dia de outono
És o invisível,
o que não existe, a quimera
ou quiçá um amor impossível
És
a lembrança de estalos de beijos noturnos
em meus ouvidos tantas vezes surdos
És
a polpa de uma fruta doce e incomum
da qual nem sequer me lembro o nome
És
o perfume do pescoço fino
do homem que não esqueço
És
cortes feitos à unha na pele das minhas costas
no escuro de uma noite perversa
Ó memória,
tu és mesmo uma ave de rapina,
já lá vai o tempo
plainando sobre os múltiplos cadáveres
que saíram de mim
enquanto bebia vinho
e pensava poesia
Ó tempo,
quanto tempo
que estou longe de ti, Portugal,
tu que me és a alegoria mais suave
desse corpo amado
jamais esquecido
e nunca sepultado
Vigio-te, Portugal!
Cuido da nossa antiga cama de afetos,
os passeios calmos à beira do Mondego,
os temporais e os vinhos do Porto,
as tardes em que ansioso te esperei...
Cuido dos travesseiros
de penas, dores e saudades
para que tudo permaneça assim,
vivo
como um coração cheio de sangue,
nada pode perecer em modo estático,
a máquina do tempo não pode parar ainda,
a claraboia do quarto onde nos víamos ainda está aberta
para as estrelas!
Ó Portugal,
hoje és nevoeiro,
este que vem da praia
que caminha p'ra mim,
que revela redes, uma canoa baleeira
vinda flutuante d'alguma parte dos Açores
Nevoeiro
que traz cantos,
sereios,
encantos,
enterrados por mim na areia
como conchas
que me lembram teu rosto
Ó Portugal,
hoje és nevoeiro,
fantasma,
o sonho que melhor teci,
o verso mais perfeito que sem escrever
escrevi,
o amor que à força costurei
e que mais sofrimentos me deu
que sorrir
Pois,
sem que eu queira,
hoje – ainda – és
nevoeiro,
estranho segredo
Ó Portugal,
hoje és
nevoeiro, nevoeiro!
E eu
sou teu novo Encoberto!
Rei poeta
que numa outra vida foi guerreiro!
Esperas por mim – pelo meu regresso –
sem o saber
Quando nos unirmos, num beijo de fim,
saberemos que terá se cumprido
o nosso utópico, distante
telúrico
destino!
C. Berndt
21/08/2012
quarta-feira, 11 de março de 2015
EL REI SEBASTIÃO
nesses dias de Saudade,
em que olho as estrelas, bebo vinho,
oiço fado,
só uma coisa verdadeiramente me consola
e me dá, ao espírito, algum frescor:
olho pela janela e espero,
como nato lusitano,
espero vê-lo, revê-lo,
um dia,
o rei santo,
de cabelos castanhos e olhos aveludados,
surgir da noite, das ondas,
em que olho as estrelas, bebo vinho,
oiço fado,
só uma coisa verdadeiramente me consola
e me dá, ao espírito, algum frescor:
olho pela janela e espero,
como nato lusitano,
espero vê-lo, revê-lo,
um dia,
o rei santo,
de cabelos castanhos e olhos aveludados,
surgir da noite, das ondas,
o Encoberto,
belo e angelical,
e sem medo atravessar o meu umbral,
abraçar-me a cintura
e com um beijo na boca
dizer-me que foi tudo um sonho,
''ainda estamos em Portugal''...
belo e angelical,
e sem medo atravessar o meu umbral,
abraçar-me a cintura
e com um beijo na boca
dizer-me que foi tudo um sonho,
''ainda estamos em Portugal''...
C. Berndt
quinta-feira, 29 de janeiro de 2015
Arte Poética (Adília Lopes)
Escrever um poema
é como apanhar um peixe
com as mãos
nunca pesquei assim um peixe
mas posso falar assim
sei que nem tudo o que vem às mãos
é peixe
o peixe debate-se
tenta escapar-se
escapa-se
eu persisto
luto corpo a corpo
com o peixe
ou morremos os dois
ou nos salvamos os dois
tenho de estar atenta
tenho medo de não chegar ao fim
é uma questão de vida ou de morte
quando chego ao fim
descubro que precisei de apanhar o peixe
para me livrar do peixe
livro-me do peixe com o alívio
que não sei dizer
é como apanhar um peixe
com as mãos
nunca pesquei assim um peixe
mas posso falar assim
sei que nem tudo o que vem às mãos
é peixe
o peixe debate-se
tenta escapar-se
escapa-se
eu persisto
luto corpo a corpo
com o peixe
ou morremos os dois
ou nos salvamos os dois
tenho de estar atenta
tenho medo de não chegar ao fim
é uma questão de vida ou de morte
quando chego ao fim
descubro que precisei de apanhar o peixe
para me livrar do peixe
livro-me do peixe com o alívio
que não sei dizer
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